Aproximar dois desafios mundiais – a recuperação da camada de ozônio e o enfrentamento das mudanças climáticas – constituiu “uma decisão histórica”. A avaliação é do representante do governo brasileiro na reunião em que foi aprovada essa aproximação, Ruy de Góes.
Reunidos no Canadá 20 anos após a assinatura do Protocolo de Montreal, os 191 países signatários do tratado decidiram, na última sexta-feira (21), adiantar os prazos para pôr fim ao uso de gases hidroclorofluorcarbonos (HCFCs) e estimular a substituição desses gases por substâncias que, além de não prejudicar a camada de ozônio, não elevem a temperatura do planeta.
Menos prejudicais à camada de ozônio, os HCFCs são os principais substitutos dos gases clorofuorcarbonos (CFCs), utilizados na indústria de geladeiras, aparelhos de ar-condicionado e espuma.
“Foi uma decisão histórica, que vai estabelecer uma relação entre os dois protocolos [de Montreal e de Quioto], com enorme benefício para o combate aos dois fenômenos que hoje são as grandes ameças para atmosfera do planeta [destruição da camada de ozônio e aquecimento global]”, avaliou Ruy de Góes, diretor do Departamento de Mudanças Climáticas da Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental (SMCQ) do Ministério do Meio Ambiente.
O acordo internacional adiantou de 2040 para 2030 a eliminação do consumo de gases HCFCs. De acordo com Góes, a decisão aprovada sintetiza seis diferentes propostas, uma delas encaminhada por Brasil e Argentina. "Todos tiveram que ceder um pouco para chegar a um consenso", comentou.
Segundo ele, esse adiantamento deve evitar emissões equivalentes a 20 bilhões de toneladas do dióxido de carbono (CO2), gás considerado o maior responsável pelo efeito estufa, fenômeno relacionado ao aquecimento global. “O primeiro período do Protocolo de Quioto prevê uma redução de 4,5 bilhões de toneladas de CO2, ou seja, a partir do Procolo de Montreal você pode ter um auxílio para o clima maior do que o acordado para o primeiro período daquele tratado”, comparou.
Apesar de menos prejudiciais para a camada de ozônio, os HCFCs contribuem intensamente com as mudanças climáticas: cada tonelada de gases desse tipo equivale, em média, a 1.800 toneladas de CO2. Segundo Góes, as principais alternativas na substituição desses gases serão hidrocarbonetos.
Com os novos prazos, Góes avalia que a recuperação da camada de ozônio pode acontecer antes do prazo previsto originalmente no texto de Montreal, que estimava a recomposição entre 2050 e 2070. “Como a decisão foi tomada na sexta-feira, ainda não foi possível calcular em quanto tempo a medida vai adiantar a recuperação da camada de ozônio, mas certamente ganharemos alguns anos”, diz.
Dados da SQMA mostram que o Brasil eliminou 95,4 % do consumo de CFCs no país. Segundo Góes, o gás ainda é utilizado na manutenção de geladeiras antigas – fabricadas até 1999 – e em medidores de dose individual , as “bombinhas” para asmáticos.
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Agência Brasil, 25/09/2007