Porto Alegre (RS) - Ambientalistas da organização não-governamental INGÁ devem apresentar em breve um estudo sobre o projeto da Usina Hidrelétrica de Paiquerê, no Rio Pelotas. O documento vai ser protocolado no Ministério do Meio Ambiente e aponta que, se a obra for construída, pode causar danos irreversíveis à biodiversidade local. A usina deve alagar mais de 80 quilômetros e promover o deslocamento de 250 famílias que vivem na área.
A área é considerada estratégica para a preservação da biodiversidade. De acordo com o biólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Paulo Brack, o estudo de impacto ambiental feito pela empreiteira Engevix é incompleto e não leva em conta um grande número de
espécies, muitas ameaçadas de extinção. Em 2006, o especialista comandou uma expedição independente na região de Paiquerê. Ele afirma que, em apenas cinco dias, sua equipe constatou muitas espécies que não haviam sido citadas no relatório da Engevix.
"São mais de 100 espécies de árvores existentes lá e a Engevix lista um número muito reduzido no estudos. O estudos são fracos e tendenciosos no sentido de considerar a obra viável", diz.
A Hidrelétrica de Paiquerê faz parte do Plano Energético do governo federal, previsto no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Além desta, outras usinas devem ser construídas no mesmo rio. Para Brack, a falta de políticas governamentais adequadas gera empreendimentos que, além de trazer impactos ambientais, representam um problema social.
"Os governos estão desinteressados e querem, sim, empregos que são temporários. Estão vindo levas de trabalhadores de fora para construir essas hidrelétricas, da Bahia, do Nordeste, do Centro do Brasil. As pessoas da região querem esses empreendimentos para dar emprego, mas é um emprego temporário e, infelizmente, dado para pessoas que vêm de fora", lamenta.
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) tem realizado reuniões junto às comunidades que podem ser atingidas pela Usina de Paiquerê. Erico Francisco da Fonseca, da coordenação do MAB, explica que a intenção é mobilizar as famílias contra a construção da barragem. Segundo ele, é preciso alertar sobre os prejuízos que, novamente, vão recair sobre a população.
"O povo só tem a perder. Primeiro, quem mora ali perde seu habitat, sua identificação, sua cultura, se desfaz das comunidades. Só quem ganha são os grupos econômicos, porque se pelo menos fosse administrado pela União para que se fossem revertido os lucros dessas barragens", afirma.
Em 2005, a Engevix foi acusada de estar envolvida na fraude do licenciamento da Hidrelétrica de Barra Grande, também no Rio Pelotas. Em função disso, o Ministério Público determinou, no ano passado, que o processo de licenciamento de Paiquerê fosse interrompido até a realização de uma Avaliação Ambiental Integrada, que ainda não está concluída.
(Por Patrícia Benvenuti, Envolverde/Agência Chasque, 24/09/2007)