Bastou uma mãozinha da organização Guardiões do Mar e o trabalho social realizado pelo Centro Comunitário da Ilha de Itaóca, no município de São Gonçalo (Rio de Janeiro), logo se concretizou em ambiente de transformação de vidas. Por estar imerso no mangue que cerca Itaóca, o local ganhou, em 2001, o nome e a forma de Cooperativa Manguezarte.
O trabalho social com a comunidade, antes desenvolvido através de palestras de profissionais de diversas áreas, agora gera renda e emprego para 20 artesãs da Ilha, sem deixar de lado o aspecto de formação de pessoas, realizando cursos para capacitar jovens para a entrada no mercado de trabalho.
Ainda enquanto Centro Comunitário, a Manguezarte levava até a Ilha profissionais como biólogos e médicos para falarem da importância da preservação do meio ambiente, do mangue local e dos cuidados com a saúde. Regina Reis, presidente da Manguezarte, explica que esta foi a forma encontrada pelo Centro Comunitário de levar informações para as pessoas da localidade, já que, segundo ela, "não teria o mesmo efeito sobre os moradores se fossem pessoas da própria comunidade falando".
Foi quando o Sebrae chegou na Ilha para dar um curso de papel machê que algumas moradoras do local descobriram o gosto pelo artesanato. O início foi com as técnicas de papel. Depois, veio o trabalho com dedoches (fantoches de dedo), que até hoje ainda é produzido na comunidade, mas em baixíssima escala. Quem parece ter conquistado de vez o gosto das artesãs e dos clientes foi o trabalho com o mosaico. A técnica, entretanto, ganhou a cara da comunidade e um nome que tem tudo a ver com o pensamento local: "mosaico social".
Ao invés de ladrilhos, as artesãs de Itaóca utilizam plásticos que iam viram lixo para confeccionar as suas peças. Porta-retratos, quadros, vasos, bandejas, tudo é enfeitado com o mosaico ecologicamente correto e vendido para as empresas como brindes. A nova roupagem para a técnica já percorreu diversas feiras solidárias pelo país, através do financiamento da sua patrocinadora e melhor cliente, a empresa Petrobrás.
Regina diz que não existe um ganho fixo com a venda das peças, mas que sempre que tem uma encomenda, é trabalho dia e noite para entregar no prazo, agradar o cliente e garantir a renda que vai ajudar nas despesas de casa. Como a maioria das mulheres da cooperativa é casada com pescadores locais, quando a maré não está boa para peixes nem para o mosaico, entra em ação aquela mesma mãozinha da ONG Guardiões do Mar que incentivou a criação da Manguezart.
A Guardiões do Mar funciona como uma incubadora da cooperativa, ou seja, acompanha a gestão do empreendimento até que este esteja capacitado para prosseguir sem o auxílio de orientação técnica da organização. O trabalho da ONG é baseado nos preceitos economia solidária, garantindo a geração de renda e qualidade de vida para a comunidade e a preservação do meio ambiente. As matérias sobre Economia Solidária são produzidas com o apoio do Banco do Nordeste do Brasil (BNB).
(Naara Vale,
Adital, 21/09/2007)