Uma associação entre índios, seringueiros e agricultores para extrair castanha no noroeste do Mato Grosso resultou em uma safra 13 vezes maior e em um ganho de mais de 400% na venda do quilo da semente, em comparação à época em que eles produziam separadamente. Juntos, ganharam poder de barganha e começaram a vender o produto para uma indústria que faz azeite, farinha e creme e comercializa esses artigos para lojas sofisticadas em centros urbanos de nove unidades da Federação.
A formação da associação partiu do Programa Integrado da Castanha, implementado pelo GEF (Fundo Global para o Meio Ambiente, na sigla em inglês). O objetivo era elevar a renda dos moradores da região. Hoje, a associação envolve 2.200 pessoas, 60 aldeias de três etnias indígenas (rikbaktsa, zoró e arara), três assentamentos de agricultores (Vale do Amanhecer, Juruena e Lontra) e a Reserva Extrativista Guariba Roosevelt.
Na safra 2003/2004, última antes da implantação do programa, foram extraídas 15 toneladas de castanhas. Nas safras seguintes, a produção se manteve em torno de 200 toneladas por ano, segundo o GEF. Antes da associação, o quilo da castanha era vendido por entre R$ 0,35 e R$ 0,45. Depois, sem atravessadores, os preços ficaram entre R$ 1,40 e R$ 2,10. “É o maior preço pago por castanhas extraídas por grupos comunitários do país”, afirma Luiz Fernando Laranja, o diretor da Ouro Verde Agro, maior compradora da produção.
A empresa fabrica creme, farinha e azeite, além de embalar as castanhas in natura. Os produtos são vendidos a cidades de Minas Gerais, Espírito Santo, Amapá, Distrito Federal, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, Mato Grosso e São Paulo. “Os produtos adquirem alto valor agregado e são vendidos em lojas sofisticadas das cidades”, afirma Luiz Fernando. “O preço pago por uma garrafa de azeite de castanha é equivalente ao preço pago pela mesma quantia de um azeite extra-virgem importado”.
O programa subsidiou a construção de 13 barracões para estocar a produção, 25 mesas de secagem e três barcos fluviais para o escoamento das castanhas. Além disso, deu curso de sobre coleta, seleção e transporte da semente aos coordenadores das comunidades, que repassaram informações aos outros moradores que trabalham com extração da castanha. Antes, a estrutura se restringia a um barracão de estocagem, instalado na reserva extrativista, um barco e um caminhão.
Os cocos da castanha, que abrigam as sementes comestíveis, são, em sua maioria, coletados quando caem no chão, por isso a extração não agride diretamente o meio ambiente. O programa, porém, conseguiu diminuir o desmatamento ao incentivar as populações locais a manter a floresta em pé para extrair o fruto, principalmente nas áreas que eram desmatadas para o cultivo de lavouras da agricultura familiar.
O projeto alterou as técnicas de seleção e transporte das castanhas. A seleção ficou mais rigorosa, e agora é feita em duas etapas. “As castanhas eram transportadas a granel, sem nenhuma proteção. Agora elas são ensacadas e os barcos são forrados com lonas para evitar que respingue água nas castanhas”, afirma Everaldo Dutra dos Santos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município de Aripuanã, onde fica a reserva Guariba Roosevelt.
“A extração da castanha é uma alternativa para geração de renda que está inscrita na cultura das comunidades. É uma atividade tradicional, assentada na organização social das populações envolvidas”, afirma o coordenador do Programa de Integrado da Castanha, Plácido da Costa Junior.
O Programa Integrado da Castanha engloba três projetos do PNUD: o Promoção de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade nas Florestas de Fronteira do Noroeste do Mato Grosso, o de Fortalecimento da Agricultura Familiar e o Programa de Apoio ao Agroextrativismo na Amazônia, relacionado à capacitação dos agricultores.
(Por Sarah Fernandes, PrimaPagina, 21/09/2007)