A capa de gelo marinho flutuando sobre o oceano Ártico quebrou todos os recordes e encolheu neste ano mais de 1 milhão de quilômetros quadrados -ou quatro vezes a área do Piauí- em relação ao valor mínimo registrado previamente. Em 16 de setembro, dizem cientistas americanos, a área de gelo marinho no Ártico era de 4,13 milhões de quilômetros quadrados. O valor mínimo mais baixo já medido por satélites até agora era de 5,32 milhões de quilômetros quadrados, em 2005.
O gelo marinho derrete todo verão naquela região, para recongelar depois. No entanto, sob a influência do aquecimento global (que foi de 3 no Ártico no último século), a porção que derrete é cada vez maior, e a que recongela, cada vez menor. O período de recongelamento deste ano já começou.
Os dados foram relatados pelo Centro Nacional de Dados sobre Gelo e Neve dos EUA. Na semana passada, a ESA (Agência Espacial Européia) já havia mostrado que o degelo seria sem precedentes, e que ele tinha aberto pela primeira vez a Passagem Noroeste, uma almejada rota marítima entre a Europa e a Ásia que até então era impassável devido ao gelo.
Embora as medições com satélites existam desde 1979, vários especialistas em gelo que analisaram os registros do Alasca e da Rússia de décadas atrás afirmam que o recuo da banquisa neste ano provavelmente é o maior do século 20. "Eu não acho que tenha havido nada parecido com o que estamos observando hoje", disse Igor Polyakov, da Universidade do Alasca, nos EUA.
Além da abertura da Passagem Noroeste, através do Canadá, a Passagem Nordeste, que circunda a Rússia, também quase foi aberta na semana passada. "Estamos começando a ver o sistema responder ao aquecimento global", disse Mark Serreze, pesquisador do centro de gelo e neve dos EUA. O degelo pode causar ainda mais derretimento, já que ele expõe vastas áreas de mar. A neve reflete 80% da radiação solar, e os oceanos absorvem 90% dela, aquecendo ainda mais o planeta.
(FSP / "The New York Times", 22/09/2007)