Os sistemas de controle de sanidade avícola e as questões relativas a acesso a mercados serão alguns dos destaques do XX Congresso Latinoamericano de Avicultura, que começa amanhã e vai até o dia 28 de setembro, em Porto Alegre. O presidente do congresso, Heitor Muller, comentou a importância da realização do evento no momento em que o setor encontra-se em franca recuperação. Para ele, o sucesso do evento se deve principalmente ao "interesse e à curiosidade mundial pelo case bem-sucedido do Brasil." O evento, considerado um dos mais importantes da avicultura mundial, contará com a participação de 53 conferencistas e a apresentação de 100 trabalhos científicos, além da apresentação de novas tecnologias para o setor.
Jornal do Comércio - Quais serão os principais assuntos a serem tratados no congresso?
Heitor Muller - A questão da sanidade animal, hoje reconhecida como sendo um patrimônio de um país, é tão ou mais importante que as reservas de minerais e de petróleo. Também estarão em pauta as discussões sobre as dificuldades de acesso a mercados, sendo que sobre este tema haverá uma reunião de líderes do setor, em nível mundial. Reunião do IPC (International Poultry Council), do Instituto Latinoamericano do Ovo e do WPSA (World Poultry Science Association).
JC - Qual a importância da realização do evento em um contexto de franca recuperação do setor no País?
Muller - Entre a eleição do Brasil, para sediar este congresso, e a data de hoje, houve uma série de acontecimentos, na área da sanidade aviária, tanto locais quanto mundiais. Neste momento, nos encontramos, em toda a América Latina, num bom status sanitário, o que contribui para a boa recuperação do setor. Devemos registrar que no Brasil temos terras, água e sol, fatores que impulsionam a produção de grãos em abundância e a custos competitivos. No momento seguinte, na transformação destes grãos em carne de frango, estas vantagens são incorporadas ao eficiente sistema de produção avícola, tornando o Brasil um país absolutamente competitivo em carnes de aves.
JC - Como está a atual situação do mercado avícola nacional? E aqui no Estado, como se encontra o mercado?
Muller - O mercado avícola brasileiro é de importância fundamental para a cadeia produtiva. Os quase 190 milhões de habitantes formam um contingente de consumidores inestimável, absorvendo uma quantidade expressiva da nossa produção avícola. O crescimento do consumo de carne de frango no Brasil foi espantoso nos últimos anos. No Rio Grande do Sul não houve o acompanhamento deste crescimento da produção. Há muitos anos, experimentamos as conseqüências do déficit financeiro do Estado. Incentivos fiscais oferecidos em outros Estados da Federação não foram acompanhados aqui, ocasionando a perda competitiva.
JC - Outro ponto que tem causado polêmica diz respeito à concorrência da avicultura com a produção de etanol, a partir do milho. Como o setor tem encarado esta questão?
Muller - A questão do etanol, para o Brasil, representa um bom problema. Com as dimensões continentais e com produtores ávidos por plantar mais, basta ter mercado para que a produção aumente. O Brasil possui mais de 100 milhões de hectares de terras agricultáveis, ainda inexploradas, ou seja, plantamos apenas em um terço da nossa área para agricultura. No caso da transformação de cana-de-açúcar em etanol, isto afeta pouco a nossa principal matéria-prima que é o milho. Mas até hoje não produzimos mais milho e soja, por falta de mercado e preço. Havendo mais mercado haverá, também, maior produção.
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JC-RS, 24/09/2007)