Líder indígena afirma que foi para Brasília buscar diálogo; para seringueiro, pobreza “não é que se passa fome na floresta, mas é porque ainda há muitas fragilidades no acesso à saúde, saneamento e crédito”O líder indígena Marcos Terena, do Memorial dos Povos Indígenas, afirmou que os povos indígenas foram os “grandes mudos da história”. No II Encontro Nacional dos Povos da Terra, na quinta-feira (20/09), em Brasília, ele afirmou que as comunidades indígenas “vieram para Brasília para falar a voz da terra”.
Terena, na segunda mesa do dia no Encontro, organizada para discutir a Conservação da Biodiversidade e a Redução da Pobreza, salientou que “o homem branco chamado desenvolvimento está matando a mãe Terra”. Ele criticou a exploração às florestas, “patrimônios que os povos indígenas conservaram”.
Para o líder indígena, a exploração da água e da madeira só “empobrece as pessoas e a terra”. Ele destacou a importância de homenagear Chico Mendes no Encontro, mas reivindicou a homenagem a líderes indígenas que também colaboraram para a consolidação da Aliança dos Povos das Florestas: “nós temos que valorizar nossos heróis também”, salienta.
Sobre a Declaração dos Povos Indígenas, aprovada pela ONU semana passada, Terena comentou que “nós, indígenas, ensinamos o Itamaraty a ouvir a gente”. E reforçou que a declaração só foi aprovada depois de muita luta e “briga pelos nossos direitos”. “Caminhamos em direção ao futuro, nos rastros dos nossos antepassados”, concluiu.
Pobreza na florestaAtanagildo Matos, do Conselho Nacional dos Seringueiros, procurou adequar o título “pobreza” da mesa de debates: “não é que se passa fome na floresta, mas é porque ainda há muitas fragilidades no acesso à saúde, saneamento e crédito”.
Segundo ele, há alguns eixos temáticos fundamentais para serem alcançados pelas comunidades. Um deles é o uso e posse dos meios, com a criação de unidades de conservação, e espaços que garantam a preservação da natureza.
O segundo ponto é a organização das comunidades, através das entidades representativas. Outra questão levantada por Matos é a necessidade de cuidar dos recursos naturais. Destacando a produção de açaí como uma riqueza extraída da floresta, o seringueiro destacou a importância do último ponto levantado por ele: produção e geração de renda. E citou produtos típicos da floresta que podem ser comercializados, como a copaíba, o cacau, o artesanato, o mel, o buriti, o cupuaçu, entre outros.
AvançosA governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), afirmou que “não reconhecer os avanços conseguidos até aqui pode dificultar a consolidação do que já se conseguiu”. Ela contou que o Estado está trabalhando em frentes para erradicação do trabalho escravo e criou também uma secretaria especial para pesca e agricultura.
Ana Júlia defendeu também planos de exploração da floresta de forma sustentável, com base na Agricultura Familiar: “é possível explorar sim nossos recursos naturais, mas não da maneira como, historicamente, vinha sendo feito”, reitera.
MinistérioO Ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, encerrou a mesa ressaltando que o país está diante de grandes problemas: a pobreza e a desigualdade social, e a questão ambiental. Ananias ressaltou que, em estudos, as áreas são conservadas exatamente onde estão presentes as reservas indígenas, e garantiu o esforço do governo para ampliar essas áreas de demarcação.
Também estiveram presentes na segunda mesa de debates o secretário de extrativismo e desenvolvimento rural do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Egon Kakhecke; Jorge Streit, da Fundação Banco do Brasil; Maria Cecília Wey de Brito, secretária de Biodiversidade do MMA; e Manoel Cunha, do CSN.
(Por Eduardo Paschoal,
Amazonia.org.br, 20/09/2007)