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eucalipto no pampa silvicultura
2007-09-24
Na história da humanidade, talvez nunca tenhamos presenciado tantas mudanças como na época atual. Mudanças de comportamento que nos conduzem a um lugar ainda desconhecido pela maioria, porém previsível, não só para alguns especialistas, como também para um número crescente e significativo de pessoas suficientemente atentas para perceber que algo não está bem. As transformações ora em curso geram debates inevitáveis e intermináveis, coisa rara em tempos anteriores. Nossa geração está cada vez mais em busca de um possível paraíso na terra, ironicamente num tempo em que mais nos distanciamos do mesmo.

O leitor poderá se perguntar de que paraíso falo, ao que responderei: o Paraíso prometido, não pelas diversas religiões, que falam sempre em nome de um deus, mas por grandes campanhas publicitárias e jogadas de marketing, desenvolvidas por empresas de publicidade, que se valem de sua arte e criatividade para oferecer aos seus clientes, (e estes aos seus consumidores) produtos e serviços que prometem, entre outras coisas, o gozo, a felicidade plena.

A linguagem utilizada pelas empresas e veiculada pelos meios de comunicação através de propagandas oferece a falsa promessa de que tudo o que é produzido e ofertado é bom e necessário para o público a que se destina. Dessa forma, somos monitorados, investigados, sondados e mapeados sem nos darmos conta disso. Nossa vida está cada vez mais ao alcance de todos, e nossa privacidade já é algo quase inexistente. Empresas de todos os setores sabem de nossas necessidades e desejos; com isso criam possibilidades tentadoras, que dificilmente se transformam em realidades.

Publicidade proibida
Infelizmente isso acontece cada vez mais em sociedades onde o governo não tem um comprometimento e uma responsabilidade maior com o desenvolvimento sustentável e com a qualidade de vida de seus cidadãos. O Rio Grande do Sul é um desses exemplos: em 2006, a juíza federal Clarides Rahmeier, da Vara Ambiental de Porto Alegre, decidiu que a Caixa Estadual S.A (Agência de Fomento do RS), o Estado do Rio Grande do Sul e o BNDES suspendessem a circulação de qualquer propaganda onde o apelo publicitário fosse a mensagem estritamente positiva do plantio da monocultura de árvores.

O material que vinha sendo divulgado foi um exemplo claro da tentativa de ludibriar a população, através de publicidade enganosa, buscando levá-la a acreditar na silvicultura como saída única para a crise que atinge o setor agropecuário em nosso Estado. Isso prova, mais uma vez, que a política oficial tem sempre apoiado os grandes à revelia dos pequenos.

A decisão da juíza Clarides Rahmeier refletiu o descontentamento e a preocupação por parte da sociedade civil organizada desde que as empresas de celulose apresentaram seus projetos de expansão em solo gaúcho. Desde 2005 vemos um interesse crescente por parte do setor de produção de papel e celulose em ampliar substancialmente sua capacidade produtiva e área de cultivo no estado. A preocupação dos ambientalistas não é só com a expansão das terras cultivadas, o que veremos logo abaixo. Eles preocupam-se também com o branqueamento da celulose, cujo processo envolve várias lavagens para retirar impurezas e clarear a pasta que será usada para fazer o papel. Pouca gente sabe, mas na separação e no branqueamento da celulose são usados produtos químicos altamente tóxicos, que representam um sério risco para a saúde humana e para o meio ambiente.

Interesse empresarial
De acordo com a AGAPAN (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural), o plantio de árvores exóticas numa grande área de propriedades rurais inviabilizará a possibilidade dos agricultores se beneficiarem da silvicultura, pois nestas condições as empresas produzirão seu próprio sustento, comprando dos agricultores somente a preços que elas determinarão. As empresas plantarão o que for de seu interesse e, com isto, submeterão os agricultores no que concerne ao preço dos produtos que desejarem deles adquirir. Como resultado, a pobreza continuará, havendo forte desvalorização da terra nas regiões onde elas se instalarão. E a mão-de-obra deverá manter-se bem barata, para as empresas dela usufruírem somente de sete em sete anos, a exemplo do que acontece em estados como Espírito Santo e Bahia, no Brasil, e de outros países como Índia, África do Sul e Chile.

A bióloga Lara Lutzenberger, presidente da Fundação Gaia, lembra que foi em 2006 que o ex-vice-presidente americano, Al Gore, empreendeu sua jornada internacional de esclarecimento e confirmação sobre o aquecimento global em curso. Na seqüência, inúmeros pareceres de acadêmicos e políticos de prestígio confirmaram a triste notícia. Até então, passaram-se anos e anos, muitos anos de fato, em que as notícias a respeito eram seguidas de posicionamentos contraditórios, minimizando suas implicações ou até mesmo refutando sua veracidade. Escancara-se a imensa irresponsabilidade em não se dar a devida importância aos sinais anteriores. Irresponsabilidade essa que se reflete em questões como o impacto da crescente alteração de nossas paisagens e do empobrecimento da fascinante biodiversidade planetária para viabilização de produções agrícolas e industriais, que mais atendem a demandas mercadológicas, orientadas pela ganância humana irrefreável, do que à necessidades genuínas.

Exemplos locais e atuais dessa tendência são verificados nas discussões em torno da ampliação dos cultivos florestais, da soja, dos biocombustíveis e na paralela demanda crescente de suprimento energético, que não se contentando na ameaça de alteração do fluxo natural dos últimos cursos hídricos, já sinaliza uma catástrofe nuclear no horizonte.

Agricultura familiar
O descontentamento com a questão da silvicultura se estendeu aos mais diversos setores, não ficando restrito apenas às instituições ambientalistas. Em março de 2006, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (FETAG/RS) enviou correspondência ao governador Germano Rigotto, demonstrando sua preocupação com o destino dos milhares de agricultores familiares e assalariados rurais. O documento, além de reforçar o trabalho da entidade na luta para transformar a agricultura familiar num verdadeiro projeto de desenvolvimento sustentável para o país, levou a conhecimento do governador a insatisfação da instituição com os encaminhamentos dados para a questão agroflorestal, visto que os indicativos se constituem vantajosos para o Governo e empresários, mas que a curto e médio prazo trarão prejuízos irreversíveis para os agricultores familiares, que também estão sendo estimulados a venderem suas propriedades para a implantação dos projetos agroflorestais.

A lista dos reais e possíveis problemas resultantes da silvicultura é extensa, assim como são muitas as questões ainda a serem levantadas. Porém, o que ficou evidenciado no decorrer de minhas pesquisas acerca do tema, e que é opinião compartilhada entre todos os entrevistados, é que os sucessivos governos vêm ignorando os alertas dos cientistas e estudiosos. Assim o fazem ao não respeitar o estudo elaborado pelos técnicos da FEPAM, FZB (Fundação Zoobotânica) e de diversas instituições públicas e privadas de reconhecido saber científico.

A propaganda enganosa sobre a geração de milhares de empregos já foi desmascarada com a comprovação de que a mecanização utilizada nestas atividades resulta em pouca mão-de-obra para tocar o empreendimento: as máquinas cortam, colhem, descascam, empilham e transportam as toras para os locais de coleta.

Outro ponto delicado quando falamos no assunto é a preocupação generalizada com o futuro do Pampa Gaúcho, pois suas características peculiares e originais não são levadas em consideração. Prevê-se que a destruição da paisagem do Rio Grande do Sul seja irreversível, com o desaparecimento não só da biodiversidade que forma o Bioma Pampa, como também de uma tradição e cultura únicas. Para não finalizar com uma visão catastrofista do assunto, gostaria de conclamar a todos a entrar na briga pela preservação da biodiversidade e cultura gaúchas, na defesa de nossas coxilhas, de nossos capões nativos, de nosso gado e, antes de qualquer coisa, na defesa do próprio gaúcho. E, como já disse em outra oportunidade, quando governos e empresas culpam o meio ambiente pelo atraso no crescimento econômico de um país, taxando os ecologistas de radicais, no mínimo, duvidam da capacidade de raciocínio lógico de seus cidadãos. Dessa forma, põe em cheque sua própria credibilidade.

(Por Christian Lavich Goldschmidt*, EcoAgencia, 23/09/2007)
* Escritor e ator

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