Brasil e México têm desafios em comum no enfrentamento das mudanças climáticas e na atuação nos debates internacionais sobre o tema, no âmbito das Nações Unidas. A avaliação é da secretária de Meio Ambiente do estado mexicano de Jalisco, Marha Del Toro.
Apesar de as semelhanças entre as duas nações – o grau de desenvolvimento, principalmente – demandarem iniciativas comuns, ela destacou diferenças quanto à execução dessas medidas. “O Brasil já avançou mais, por causa do etanol, por exemplo”, afirmou.
A grande quantidade de veículos – que emitem gases considerados causadores do efeito estufa –, o desafio de dar um destino seguro ao lixo produzido nas metrópoles e o desmatamento estão são as semelhanças apontadas por Del Toro. Ela também destaca semelhanças como o alto grau de poluição em grandes cidades como São Paulo e a mexicana Guadalajara.
“Em relação ao desmatamento, nós já estamos avançado com uma grande campanha de reflorestamento”, contou, em entrevista à Agência Brasil. “Neste ano, a meta é plantar 5 milhões de árvores e estamos indo bem, já alcançamos mais da metade. Apesar de contribuir com apenas 2% das emissões do aquecimento global, estamos comprometidos em reduzi-las” , adiantou, após participar, na última quinta-feira (20/09), da Conferência Internacional Rio+15, promovida por uma empresa do mercado de carbono.
Para Del Toro, países em desenvolvimento – como Brasil e México – deveriam receber mais incentivos das nações ricas para executar programas de desenvolvimento sustentável. Assim como o governo brasileiro, a secretária afirmou que o México é contra o estabelecimento de metas de redução de emissões para nações em desenvolvimento. Atualmente, o Protocolo de Kyoto prevê esse tipo de obrigação para 35 países ricos.
“Não negamos o compromisso, mas não podemos ser tratados como países desenvolvidos – tem que haver uma diferenciação, devemos receber apoio”, afirmou.
Também como o Brasil, o México investe em projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), instrumento do Tratado de Kyoto que permite às nações em desenvolvimento produzirem energia limpa – sem emissão de carbono – e venderem os créditos gerados por essa redução para países ricos. Assim, estes não precisam cortar as emissões correspondentes em seu território, a fim de cumprir as metas do acordo.
Com 89 projetos registrados na ONU, o México ocupa a quarta posição em número de iniciativas do MDL; o Brasil é o terceiro, com 235. “Dos 89, quase todos são em granjas de suinocultura [o metano liberado é transformado em energia elétrica por biodigestores], projetos na indústria química, investimentos em energias renováveis, como a eólica e a hidráulica, e aterros sanitários”, enumerou a secretária.
O México, que tem 98% da matriz energética baseada em combustíveis fósseis, pretende investir pesado em energias renováveis nos próximos anos. Mas a secretária não considera a substituição de derivados do petróleo por etanol em larga escala como uma solução viável para o país: “Os projetos de etanol no México utilizam milho e não cana-de-açúcar. E nossa legislação é restritiva: não podemos deixar de comer para produzir combustível e também não vamos permitir que haja desmatamento para plantar cana”.
Uma das soluções, segundo a secretária, pode ser o investimento em biodiesel, que não ocupa solos da agricultura, mas terras inutilizadas.
(Por Luana Lourenço, Agência Brasil, 22/09/2007)