As organizações civis que atuam na defesa da igualdade de gênero anteciparam o debate sobre mudanças climáticas na Organização das Nações Unidas (ONU) e apresentaram propostas para estimular governos e empresas a envolver as mulheres na formulação de políticas contra o aquecimento global. O documento deve ser analisado na reunião marcada pela ONU para esta segunda-feira (24/09), na qual o Brasil será representado pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
As ativistas argumentam que a população feminina está mais vulnerável aos efeitos dos desastres naturais por, entre outros fatores, ser maioria nas comunidades pobres e em condições precárias de moradia. Em situações de emergência, as mulheres seriam as últimas a receber informações sobre formas de proteção e serviços de assistência.
"A liderança exercida na família e vizinhança ainda obriga essas mulheres a desempenharem um papel fundamental na reconstrução de bairros e cidades inteiras após desastres como o Katrina [furacão que devastou Nova Orleans, no sul dos Estados Unidos, há dois anos]. Isso apesar de as mulheres serem as principais afetadas pelos desastres", lembrou, em entrevista à Agência Brasil, a costa-riquenha Lorena Aguilar, uma das diretoras da Organização de Mulheres pelo Ambiente e o Desenvolvimento (Wedo, na sigla em inglês).
Ela critica o Painel Intergovernamental em Mudança do Clima (IPCC) da ONU por não ter dado destaque em seu último relatório à situação das mulheres frente ao aquecimento global. Para Lorena, países como o Brasil, que já tem desenvolvido projetos de promoção dos direitos das mulheres, também precisam assumir, internacionalmente, a defesa de uma política ambiental diferenciada no que diz respeito à eqüidade de gênero.
"Se o presidente Lula tem exercido liderança em outros aspectos na ONU, como fome e pobreza, espero que nos acompanhe no que diz respeito às mudanças climáticas", afirma a ativista, para quem a política brasileira de promoção dos biocombustíveis também precisa ser analisada a partir dos impactos nas condições de vida das mulheres.
"É uma política que começa a ser copiada por vários países da região, apesar de algumas dúvidas sobre os benefícios ecológicos, sociais e para a segurança alimentar. O impacto disso estará certamente concentrado nas mulheres, principais responsáveis pela subsistência e garantia de alimentação em todo o mundo."
(Por Juliana Cézar Nunes, Agência Brasil, 21/09/2007)