A dieta diária de um mexicano prevê entre 285g e 480g de alimentos provenientes de milho, ingrediente de pelo menos 600 pratos culinários diferentes, liderados pela famosa tortilla. Para o professor Rodolpho Quintero, da Universidade Autônoma Metropolitana de Cuajimalpa, México, é natural que isso provoque debate na sociedade sobre se o México deve plantar milho transgênico ou não. O que se sabe é que os mexicanos consomem milho transgênico, uma vez que a sua atual produção de milho, de 18,6 milhões de toneladas, é insuficiente para atender a demanda interna. Só em 2007, o país terá que importar mais de 10 milhões de toneladas, a maior parte dos Estados Unidos, onde lidera o milho transgênico.
Em apresentação realizada durante o V Congresso Brasileiro de Biossegurança, realizado pela ANBio – Associação Nacional de Biossegurança, na cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais, entre os dias 18 e 21 de setembro, Rodolpho Quintero deu um panorama sobre a situação mexicana em relação aos transgênicos, mostrando que os argumentos de apoiadores e opositores não diferem muito dos existentes no Brasil, nem mesmo no tocante a divergências internas na comissão interministerial mexicana (Cibiogem) que centraliza o assunto desde 2000. “Há três ministérios contra e cinco a favor”, resumiu.
Considerando natural o debate e enfatizando a obrigação do cientista em ajudar no esclarecimento da sociedade, o professor Quintero e sua equipe já estão pesquisando o milho transgênico não mais na sua aplicação na área de alimentos mas, sim, na área farmacêutica. “Estamos falando da terceira onda da biotecnologia, onde as plantas passam a ser veículos de saúde, gerando vacinas, antibióticos, vitaminas e enzimas”, explicou o cientista. Para ele, nesta nova fase, o cientista já não pensa nas necessidades agrícolas mas nas farmacêuticas.
O milho, o arroz, a cevada e o trigo, nas aplicações de biotecnologia destinadas à área de saúde, passaram a ser consideradas as mais importantes “plataformas de produção”, em virtude do potencial das “sementes” que apresentam. O milho lidera, com folga, essa nova tendência de uso. Já existem duas proteínas originárias do grão em comercialização nos Estados Unidos e 71% das atuais requisições ao governo americano para liberação comercial de aplicações farmacêuticas transgênicas são produtos originários do milho, segundo informou o professor mexicano, durante o V Congresso Brasileiro de Biossegurança, em Ouro Preto-MG.
Perfil da ANBio
A Associação Nacional de Biossegurança (ANBio) foi criada em 1999, com o objetivo de difundir informações a respeito dos avanços da biotecnologia moderna e seus mecanismos de controle. No seu escopo de trabalho estão a promoção do conhecimento relativo à biossegurança e de suas práticas, como disciplina científica, além da capacitação e orientação de profissionais que implementam a biossegurança em instituições de pesquisa e ensino da área biomédica.
V Congresso Brasileiro de Biossegurança, de 18 a 21 de setembro, no Centro de Convenções da UFOP, Ouro Preto-MG.Realização: Associação Nacional de Biossegurança – ANBio. Para informações e inscrições na Secretaria Executiva do Congresso ANBio | Telefone: (21) 2220 867 |
(Revista Fator, 23/09/2007)