Artigo - Dia da Árvore serviu para lembrar a falta de políticas efetivas de preservação
arborização urbana
2007-09-24
Desde meus tempos de guri, no Oeste de Santa Catarina, na escola local, aprendi que no dia 21 de setembro deveríamos festejar o Dia da Árvore. Lá se vão os anos e mais uma vez vejo as autoridades, professores e mídia falando de árvore. Mas sempre me intriguei e continuo cabreiro com esta data. Há décadas, os alunos costumam escrever uma redação sobre o tema e, incentivados pelos professores, plantam uma muda de árvore. Ou um secretário ou um prefeito vai numa praça ou parque e planta uma árvore, tiram foto, sai na mídia, e todos ficam tranqüilos. Mas é possível fazer muito mais. Plantar, preservar, cuidar das árvores 365 dias por ano.
Li que além do pau-brasil, existem outras árvores em extinção, como o Mogno (Swietenia macrophylla), o Jacarandá da Bahia (Dalbergia nigra) e a Araucária (Araucaria augustifolia), esta última comumente encontrada em Santa Catarina. No Rio Grande do Sul, por risco de desaparecimento, estão proibidos os cortes do Pinheiro brasileiro (Araucária augustifolia), Sangue-de-dragão (Helois cayannensis), Canela-preta (Ocotea catharinensis), Imbuia (Ocotea poprosa) e a Canela-sassáfraz (Ocotea pretiosa), localizadas em áreas naturais da Mata Atlântica.
Quantas árvores se derrubam no Brasil por dia? Ninguém sabe. Nem os órgãos públicos ousariam dar cifras, pois isto deporia contra eles mesmos de forma arrasadora. Embora o Brasil tenha 45% da energia originada de fontes não-poluentes e da produção de biocombustíveis, nosso país precisa de uma política pública eficaz contra o desmatamento para impedir o aumento das emissões de gás carbônico, que contribui para o agravamento do aquecimento global.
Precisamos mais, temos que ter uma política de prevenção contra as queimadas que arrasam milhares de hectares, por descuidos, por ignorância, por fonte criminosa. Vejam as matérias dos telejornais neste setembro vermelho de fogo, setembro de muitas nuvens negras e de fuligem. E lá se vai nosso ambiente, detonado, com seu verde virando cinza, com árvores irrecuperáveis indo abaixo.
Atualmente, o Brasil é o quarto emissor de gás carbônico do mundo, despejando cerca de um bilhão de toneladas por ano, segundo o Ministério de Ciência e Tecnologia. As razões desse volume não estão nos veículos ou nas chaminés das fábricas. Isso porque 75% das emissões do principal gás causador do efeito estufa são provocadas pelas derrubadas de árvores.
A proposta brasileira a ser reapresentada em dezembro na reunião das partes do Protocolo de Quioto em Bali (Indonésia) consiste na criação de um sistema de incentivo positivo. Um fundo voluntário recompensaria os países que comprovassem, por meio de imagens de satélites, terem reduzido o desmatamento. Segundo o Ministério das Relações Exteriores "isso seria bem menos oneroso que, por exemplo, converter termelétricas em usinas de geração limpa de energia.
A proposta é meritória, mas me parece que as coisas deveriam começar pelas escolas. O Ministério da Educação, em parceria com as Secretarias Estaduais e estas com as municipais, produziria um bom material didático para ser distribuído, com informações, com meios de plantar, preservar e cuidar. Só começando pelas escolas, com uma ação global, a partir da governo federal, junto com Estados e Municípios vamos barrar esta devastação em curso.
Aqui, em Porto Alegre, segundo a Smam "estima-se que Porto Alegre possua um milhão e 300 mil árvores em vias públicas, cuja distribuição beneficia um número de pessoas ainda maior que o atingido pelos parques e praças. Por essa razão, a Smam dispensa muitos cuidados às árvores de calçadas e canteiros centrais."
Bom, não posso negar que há muitas árvores em Porto Alegre, comparando com outras cidades. Também não posso duvidar que a Smam tenha plantado árvores, mas a Smam deveria cuidar do que planta, pois hoje pelo que sou informado morre mais de 30% do que é plantado.
Adotar praças e arvores é uma boa, é trilegal como nós falamos aqui, mas adotar deveria significar antes de mais nada cuidar. Eu penso que árvores se cuidam todos os dias. Árvores precisam de cuidados todos os dias. Quem sabe redações devessem ser pedidas sobre árvores doentes, sobre podas, sobre adoção em outros dias do ano que não apenas no dia 21 de setembro, pois para mim todo dia é dia de árvore.
(Por Adeli Sell*, artigo recebido por E-mail, 21/09/2007)
*é líder da Bancada do PT na Câmara Municipal de Porto Alegre, RS