Ligado à história e formação do gaúcho, o Pampa no Rio Grande do Sul tem perdido suas características originais ao longo das últimas décadas e desaparecido em algumas áreas de expansão agrícola e urbana. Atualmente, apenas 40% mantêm a cobertura vegetal de espécies nativas. O Vale do Jacuí e o entorno das lagoas do Pato e Mirim são alguns exemplos de locais onde o bioma Pampa (presente apenas no Rio Grande do Sul, dentro do território nacional) vem sumindo. O ritmo acelerado com que os campos têm sido convertidos em lavouras e florestas plantadas, sem a aplicação de limites, preocupa ambientalistas e pesquisadores, que criticam sobretudo a falta de fiscalização e de uma política efetiva de preservação.
Assim como no Pampa, outro bioma encontrado no Estado, a Mata Atlântica, tem sofrido constante redução. A estimativa é que represente entre 1% e 2% do que existia originalmente no território gaúcho, depois de ocupar quase 40%. A expansão agrícola e urbana estão entre os responsáveis pela degradação da vegetação nativa do Estado. Dos ecossistemas campestres, apenas 0,36% está protegido em unidades de conservação. O biólogo e professor do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da Ufrgs Paulo Brack enfatiza que a situação do Pampa e da Mata Atlântica é de extrema vulnerabilidade pela falta de políticas consistentes de preservação. 'Hoje, o Estado não investe suficientemente na proteção. Há espécies em acelerado desaparecimento', afirma.
No caso do Pampa, Brack destaca o expressivo retorno econômico e a geração de renda que o uso sustentável poderia proporcionar. Enquanto no Rio Grande do Sul o Pampa desaparece aos poucos, sua biodiversidade desperta cada vez mais o interesse de outros países, que levam sementes de espécies como plantas medicinais e frutíferas. 'Isso tem gerado lucro de bilhões a esses países', ressalta.
A ambientalista e integrante do Núcleo Amigos da Terra Brasil Kathia Vasconcellos Monteiro também critica a falta de uma política de preservação. 'Quando se mexe com a vegetação nativa, se mexe com tudo. Acontece a perda de biodiversidade, da qualidade e quantidade de água, além de afetar o solo e o microclima', pondera. A redução se acelerou a partir da década de 70, com o avanço do processo agrícola. Kathia frisa que qualquer alteração que aconteça pode ganhar grandes proporções diante da situação já precária. Outro problema apontado é a disseminação do capim Annoni, espécie exótica considerada uma praga para os campos do Rio Grande.
(Por Carina Fernandes,
Correio do Povo, 23/09/2007)