Levantamento mostra que cidades não atendem ao padrão estabelecido pela OMS Pesquisa do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP analisou SP, Recife, Porto Alegre, Curitiba, BH e Rio
Um estudo feito em seis capitais brasileiras revelou que nenhuma delas atende ao padrão da Organização Mundial de Saúde para poluição do ar. Segundo pesquisa do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP, São Paulo ainda é a capital mais poluída do Brasil, mas Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife não podem se orgulhar por terem ar limpo.
Medições entre maio e julho deste ano mostram a situação desfavorável em todas elas. O estudo, obtido com exclusividade pela Folha, analisa o poluente material particulado fino (mistura de poeiras e fumaça). A principal fonte de emissão do poluente são os veículos.
A OMS recomenda que a concentração de material particulado fino não ultrapasse os 10 microgramas por metro cúbico. Porém, a média foi de mais de 20 microgramas por metro cúbico nessas capitais.
Em São Paulo, chegou a 30. Recife, que foi a cidade que ultrapassou menos vezes o limite durante a pesquisa, teve média 12 -ainda um pouco acima do padrão (veja quadro ao lado).
Para o patologista Paulo Saldiva, do laboratório de poluição da USP, a longa exposição a esse tipo de poluição está diretamente relacionada a mortes por doenças cardiovasculares e por bronquites crônicas.
Mesmo em exposições de curta duração, as pessoas podem sentir efeitos da alta concentração do poluente: cansaço, tosse seca, irritação nos olhos, no nariz e na garganta.
Foi o que aconteceu com o professor de química Elson Barros, 38. Sua camionete quebrou ontem no túnel Anhangabaú (centro de SP). Nos 15 minutos que ficou lá, sentiu dificuldades para respirar e ardor nos olhos. "Geralmente, quando passo nos túneis, fico de vidros fechados para não inspirar a fumaça toda."
O professor não sabia que amanhã é o Dia Mundial Sem Carro, uma iniciativa para refletir sobre o excesso de veículos e suas conseqüências. Considera, porém, a idéia positiva.
De acordo com André Ferreira, representante da Fundação Hewlett no Brasil, algumas capitais têm monitoramento precário, o que impede o acompanhamento e a cobrança de medidas que amenizem o problema da poluição. "Recife não possui rede de monitoramento. Em Porto Alegre, o último dado disponível para o público é de 2002 e a média anual para material particulado mostrava que não atendia ao padrão."
A pesquisa da USP foi encomendada pelo Ministério do Meio Ambiente e patrocinada pela Fundação Hewlett.
Até a região considerada menos poluída da cidade, a serra da Cantareira, ultrapassa o padrão da OMS para poluição do ar por material particulado fino. A checagem foi feita ontem pela Folha, que percorreu a cidade com um medidor emprestado do laboratório da USP.
O objetivo era fazer pequenas medições da concentração do poluente. Segundo o engenheiro Paulo Afonso de André, responsável pelo aparelho, os ventos levam a poluição até para a Cantareira, na zona norte.
"Nenhuma região de São Paulo está imune", diz. A medição aponta que os túneis são os locais mais poluídos. No túnel Anhangabaú, o pico foi de 100 microgramas por metro cúbico e a média foi 60. No túnel Ayrton Senna, o pico foi 70 microgramas por metro cúbico e a média, 55. Isso ocorre porque a circulação de ar é menor. Na marginal Tietê, a média foi de 40. Ao passar um caminhão, porém, a concentração aumentava e chegou a 100.
O vendedor de tapetes e redes Roberto Oliveira, 40, trabalha por toda a cidade, mas ainda prefere o ambiente da Cantareira. "Aqui o ar é mais fresco, mais gostoso. Se for comparar as avenidas, acho a 23 de Maio melhor que a marginal e a do Estado, porque não têm tantos veículos pesados."
(Por Afra Balaina,
Folha de S.Paulo, 21/09/2007)