O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem (20/09) que o protocolo de Kyoto está "ultrapassado", porque países que eram considerados subdesenvolvidos, como Brasil e China, estão se desenvolvendo e estão hoje entre os dez maiores poluidores. Já o ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia classificou como "míope" e "equivocada" a postura do governo brasileiro de não aceitar ter uma meta individualizada para reduzir a emissão de gases do efeito estufa, conforme desejam os países europeus.
Os dois participaram hoje do segundo e último dia da Conferência Internacional Rio +15, num hotel na zona sul do Rio. Fernando Henrique mandou uma mensagem gravada, exibida na abertura da sessão. Lampreia participou de um painel sobre os próximos 15 anos do Protocolo de Kyoto, que prevê a redução das emissões apenas no período entre 2008 e 2012. O governo Lula resiste à pressão para assumir metas diferenciadas de redução de emissões com a alegação de que os países europeus já se desenvolveram e que não é justo os países em desenvolvimento, sem receberem nenhum tipo de recurso financeiro, abrirem mão de se desenvolverem.
"Qualquer acordo internacional limita a soberania. Mas se um país africano dizimar outro com um gás químico, não existe isso de ninguém falar nada. Dizer que faz o que quer porque é o dono da casa é uma atitude autocrática", disse Lampreia. Em sua opinião, não existe mais o conceito de soberania tal como ele era entendido em questões globais como meio ambiente e direitos humanos. Para o ex-chanceler, o Brasil deveria negociar metas baseadas na emissão per capita e cumpri-las.
Já FHC, embora não tenha feito críticas diretas ao governo, avalia que o aquecimento global só poderá ser estabilizado com o esforço de todos os governos e o engajamento da sociedade. "Não é uma questão de um governo, de um país. É uma questão de sobrevivência da humanidade. O problema ambiental não pode ser tratado da forma burocrática como vem sendo", sentenciou. Segundo ele, houve alguns avanços desde Kyoto, em 1997, mas ainda muito disperso e insuficiente.
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Agência Estado, 20/09/2007)