Cerca de 60% dos custos ambientais contabilizados pela China se relacionam ao estado da água no país, afirma Ma Jun, ex-jornalista radicado em Pequim. Durante sete anos, Ma trabalhou como repórter no The South China Morning Post, em Hong Kong, e redigiu muitas reportagens e artigos sobre questões ecológicas. Em 1999, escreveu um livro sobre a crise da água na China, que obteve muito sucesso.
Um ano mais tarde, abandonou o jornalismo para se dedicar por completo à questão da contaminação das águas em seu país. "É nosso problema mais sério", afirma.
- Dois terços de nossas cidades sofrem escassez de água, e em 150 delas não existe qualquer sistema de purificação - afirma.
No norte, os problemas de escassez e contaminação da água se sobrepõem. Além disso, 320 milhões de chineses, ou seja, um quarto da população, carecem de acesso à água potável. Até a Índia oferece índices melhores. Mais de 70% dos lagos e rios chineses estão contaminados, e o mesmo se aplica a metade da água presente no lençol freático das zonas urbanas. O tema da água do lençol freático é especialmente grave, porque na China 70% da água para consumo humano e 40% da água usada em irrigação é extraída do subsolo.
- É preciso fazer alguma coisa, porque em 2030 teremos de alimentar mais 200 milhões de habitantes, e nossos recursos hídricos não crescerão - disse Ma, 38 anos.
O ex-jornalista criou uma ONG, o Instituto de Assuntos Públicos e Ambientais, que assessora empresas e instituições quanto a questões de contaminação de águas. Começando por um trabalho minucioso de análise in loco, ele preparou um mapa completo sobre a situação da água na China. O mapa, disponível em http://www.ipe.org.cn/index.jsp, é um banco de dados detalhados que está em uso desde 2004 e foi elaborado com o uso de fontes oficiais dos departamentos locais e nacionais de defesa do meio ambiente.
Os dados compilados permitiram, entre outras coisas, que ele preparasse uma lista com 2,7 mil empresas responsáveis pela contaminação das águas no país, entre as quais 34 multinacionais como Nestlé, Kawasaki Steel, Pizza Hut, DuPont Agricultural Chemicals, Panasonic e Pepsi.
Ma explica que isso não significa que as empresas estrangeiras sejam piores que as chinesas; o que acontece é que, "na China essas empresas relaxam seus padrões ambientais, em parte porque os governos locais não são muito exigentes, ou seus mecanismos de controle não são eficientes". Mas explica que os chineses realizaram "progressos significativos em termos de transparência ambiental", nos últimos anos. Desde 2003, por exemplo, existem leis para desenvolver o acesso à informação ambiental.
Ainda assim, as autoridades locais mantêm sua atitude tradicional quanto a ocultar a realidade, em parte porque a proteção ao meio ambiente eleva os custos da administração local e em parte porque as empresas são, em muitos casos, a principal fonte de impostos nos distritos, e isso faz com que os governos precisem delas. Um recente relatório da agência chinesa de proteção ambiental revela as mentiras das autoridades locais aos fiscais, e como elas permitem o estabelecimento de indústrias que desrespeitam as normas.
O estudo fala do caso de um vice-prefeito em Guizhou, uma das províncias mais pobres do país. Ele negou às autoridades a existência em sua cidade de uma usina termelétrica que é a principal indústria local. Mas considera que "os dirigentes chineses mudaram o discurso, e sua visão dos problemas, mas é preciso conscientizar a população. "O povo precisa pressionar para mudar a dinâmica", e rápido, "porque a China está vivendo em 20 anos o que aconteceu a outros países em 100".
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Agência JB, 20/09/2007)