Em cima da Mesorregião Chapada das Mangabeiras e Serra da Tabatinga estão localizados imensos projetos de soja e milho, pois o local é tido como a última fronteira agrícola do Brasil, apresentando grande potencial na produção de grãos. Para isso, muitas áreas estão sendo degradadas, comprometendo o ciclo da água que abastece os mananciais.
A Expedição Nascentes Urgente encontrou palhas de milho dentro da área de preservação trazidas pelo vento dos projetos agrícolas em cima da chapada. Os nativos afirmam que as plantações de milho e soja se expandem rapidamente.
Nascentes ameaçadasAs plantações de soja que estão invadindo o platô da Serra da Tabatinga e ameaçam as nascentes, pois com as chuvas canalizam e escorrem pelas paredes da rocha, despejando as águas repletas de defensivos agrícolas diretamente no local das nascentes, que estão logo abaixo dos paredões.
Todavia, a exemplo do que ocorre em outras partes do Brasil, a situação social existente em Mangabeiras espelha um panorama caracterizado por extrema desigualdade. A análise de alguns indicadores referentes aos setores de educação fundamental, saneamento, saúde, distribuição de renda e desenvolvimento humano evidencia um contexto no qual parte significativa da população não consegue ter acesso aos serviços sociais básicos.
Um dos guias da região, conhecido como Gugu, disse que muitos piauienses sobem a chapada para trabalhar nas plantações. Acrescentou ainda que o trabalho lá é muito duro e mal remunerado. A superintendente do Ibama do Maranhão, Marluze Pastor, admite que “não é preciso desmatar mais para plantar soja”, pois para ela é mais importante preservar os recursos hídricos e ambientais para se buscar uma sustentabilidade. “Não estou dizendo que não deva se plantar mais soja, é que devíamos ter o compromisso de não abrirmos mais a fronteira agrícola, não fazer mais desmatamentos e saber utilizar as áreas desmatadas que já são muitas, e o que acontece que a cada ano desmatam mais comprometendo todo o ecossistema.”, disse Marluze.
Leito de areiaOs solos nestas chapadas são profundos e de baixa fertilidade natural e nos declives das vertentes apresentam-se arenosos rasos e pobres, com a presença de afloramentos rochosos e com alta permeabilidade. Devido a esta grande permeabilidade a chapada é formadora de um grande número de nascentes que irão compor três dos principais rios brasileiros (os rios São Francisco, Tocantins e Parnaíba).
Muitos rios se encontram agonizando no Piauí, é o caso do Rio Gurguéia que era o principal afluente da Bacia do Rio Parnaíba, pois a sua perenidade foi tomada pela areia. Este foi preço que a prática do agronegócio da soja deu em troca, resultando em grandes desequilíbrios ambientais e econômicos.
(Por Dionísio Carvalho*,
Envolverde /
Ecoagência, 20/09/2007)
(*) Dionísio Carvalho é estudante de jornalismo e ambientalista no Piauí.