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queimadas
2007-09-20
Equipe do WWF-Brasil constata em sobrevôo os preocupantes números do Inpe: queimadas na Amazônia praticamente dobraram nos oito primeiros meses de 2007, em comparação com o mesmo período de 2006

Juntamente com o fotógrafo Juvenal Pereira, decolei do Aeroporto de Rio Branco (Acre) em um bimotor Sêneca II, na tarde do dia 23 de agosto.  O objetivo do sobrevôo era fazer fotografias aéreas da floresta para abastecer o banco de imagens da Rede WWF.

Já nos primeiros minutos, percebemos que a meta da viagem sofreria uma alteração.  Mal havíamos alçado vôo e já nos deparávamos com diversos focos de incêndio.  Assustador.  Uma coisa é ver a floresta queimar em imagens de televisão ou em fotos.  Outra completamente diferente é presenciar, do alto, chamas consumindo grandes porções de mata nativa, a ponto de chegarmos a tossir por causa da fumaça e a sentir na pele o calor das labaredas.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão federal que monitora por satélite os focos de calor no país, apontam que o número de queimadas* na Amazônia Legal brasileira, entre janeiro e agosto deste ano, aumentou cerca de 96% em comparação com o mesmo período de 2006.  Nos oito primeiros meses do ano passado, o Inpe detectou 9.119 focos.  Este ano, também entre janeiro e agosto, o número saltou para alarmantes 17.882.

Em um sobrevôo de apenas cinqüenta minutos próximo à capital Rio Branco, entre a Rodovia Transacreana e a BR-364, vimos cinco ou seis focos de incêndio.  Também pudemos observar grandes áreas que já haviam sido devastadas por queimadas recentes.

O trecho sobrevoado apresentou uma amostragem da ação de dois dos principais fatores de desmatamento da Amazônia: pecuária e exploração madeireira.  Grandes áreas abertas no meio da floresta eram ocupadas por rebanhos com dezenas e até centenas de cabeças de gado.

Também vimos, em vários pontos, toras de madeira empilhadas em clareiras recentemente abertas, prestes a serem retiradas.  O acesso às toras se dá por pequenas vias de terra abertas no meio da mata, ligando as clareiras a estradas mais largas que, por sua vez, terminam em rodovias asfaltadas.

A situação é ainda mais preocupante pelo fato de a região sobrevoada estar no entorno de uma capital estadual; uma área, em princípio, mais fácil de ser fiscalizada por contar com boa infra-estrutura rodoviária e de telecomunicações.  As fotos tiradas durante o percurso revelam a gravidade da situação, mostrando uma paisagem, na maior parte do tempo, encoberta pela fumaça e com visibilidade comprometida.

De acordo com Sidney Rodrigues, coordenador do Laboratório de Ecologia da Paisagem do WWF-Brasil, o monitoramento das queimadas é de grande importância para a conservação da Amazônia.  “Esses dados servem de subsídio para a elaboração de uma série de medidas preventivas, como a criação de brigadas de incêndio em áreas mais críticas, a definição de calendários de queima e ações de fiscalização e controle”.

O coordenador destaca também que, especialmente na Amazônia, as queimadas são utilizadas, principalmente, para preparar o terreno para a formação de pastagens e por grileiros, que queimam áreas antes de ocupá-las ilegalmente com objetivo de lucrar com a venda das terras devastadas.  “Por isso, além do monitoramento dos focos de incêndio, também é essencial criar e implementar unidades de conservação, que representam um obstáculo a essas atividades ilegais”, conclui.

* na Amazônia, a maior parte dos focos de calor corresponde a queimadas.

Notas complementares**:
O monitoramento de queimadas e incêndios divulgado pelo Inpe é viabilizado por meio do satélite meteorológico norte-americano NOAA 15 (National Oceanic and Atmospheric Administration), que fotografa a Terra duas vezes por dia e orbita a aproximadamente 850 quilômetros de altitude.

O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) divide as ocorrências de fogo na Amazônia em três categorias: 1 – Queimadas para desmatamento: intencionais e associadas à derrubada e à queima da floresta.  Principal causadora de impactos ambientais, uma vez que substitui a vegetação florestal por ecossistemas antropogênicos.  2 – Incêndios florestais rasteiros: provenientes de queimadas que fogem ao controle e invadem florestas primárias ou previamente exploradas para madeira.  Podem eliminar até 80% da biomassa florestal acima do solo, impactando também a fauna, além de aumentar a inflamabilidade do solo.  3 – Queimadas e incêndios em áreas já desmatadas: resultam do fogo intencional ou acidental em pastagens, lavouras e capoeiras.  São responsáveis pela perda de nutrientes de ecossistemas agrícolas e liberam grandes quantidades de fumaça e partículas na atmosfera.

As queimadas e incêndios liberam grandes quantidades de carbono na atmosfera, agravando o aquecimento global.  Também contribuem de forma significativa para a savanização da Amazônia.

(WWF Brasil, 18/09/2007)

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