A expressão “socioambiental”, cada vez mais utilizada em diversos setores, seria apenas mais um neologismo que remete a um conceito abstrato? Não para o economista José Eli da Veiga, que vê no termo um verdadeiro movimento político.
No livro "A emergência socioambiental", lançado pela editora Senac-SP, Veiga discute como a junção do social e do ambiental em uma só palavra manifesta o surgimento de uma nova relação entre natureza e cultura.
“A oposição entre a natureza e a cultura marcou a formação do mundo contemporâneo e a tradição das ciências sociais, da filosofia e da economia. O conceito de socioambiental indica que está havendo uma reconciliação dessas noções que foram separadas artificialmente”, disse Veiga à Agência Faesp.
O professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP) explica que a obra está dividida em três capítulos. Os dois primeiros têm um caráter de divulgação científica, enquanto o terceiro se dedica a uma reflexão de fundo filosófico sobre o conceito de socioambiental.
“No capítulo inicial, procurei desmontar o mito de que o PIB [Produto Interno Bruto] pode ser um parâmetro razoável para medir o desenvolvimento. A idéia é que o crescimento econômico não pode prejudicar a qualidade de vida e o desenvolvimento social. No segundo capítulo, traço um panorama dos temas ambientais e da dificuldade para se medir seu uso econômico”, disse.
A terceira parte, considerada pelo autor a mais importante, coloca em discussão o conceito de “socioambiental” em uma ótica inspirada na tradição da dialética, oposta à tradição analítica das ciências sociais.
“O desenvolvimento sustentável não faz sentido para alguém que pense nos quadros da tradição analítica. Procurei mostrar que a emergência do socioambiental coincide com um renascimento do pensamento dialético e só pode ser compreendida dentro dessa tradição”, explicou.
Da ciência teórica para a ação política
De acordo com José Eli da Veiga, a tradição dialética naufragou, no âmbito filosófico, ao sofrer forte rejeição por sua relação com o marxismo. A volta da dialética, no entanto, não ocorreu por meio da filosofia, mas sim pelos rumos das ciências.
“O renascimento atual da dialética está acontecendo por obra dos cientistas, com a moderna teoria da complexidade, com o debate em torno do conceito de emergência – principalmente na biologia, na química e na física – e com o debate em torno de sistemas dinâmicos não-lineares”, afirmou.
De acordo com o professor da FEA, as tendências contemporâneas da ciência mostram que não é possível estabelecer separação absoluta entre as ciências da vida, a teoria da evolução, a teoria da complexidade e os sistemas dinâmicos. A natureza e a cultura seguem pelo mesmo caminho, culminando com a unificação do social e do ambiental.
“O social e o ambiental também sofreram alterações em seu significado científico e na própria maneira como se expressam na prática governos, empresas, consumidores e os próprios movimentos sociais. Os dois termos se modificam quando se juntam, ultrapassando uma mera operação intelectual e caracterizando um verdadeiro movimento político”, disse Veiga.
Segundo o autor, o livro é voltado para profissionais do setor privado que trabalham com responsabilidade socioambiental, estudantes de graduação e pós-graduação, além de pesquisadores de diversas áreas, especialmente os que se dedicam à teoria da complexidade, aos sistemas dinâmicos e ao conceito de emergência.
“Acho que os dois primeiros capítulos serão de interesse especialmente para os estudantes de graduação e de profissionais que trabalham com o socioambiental, mas que muitas vezes não chegam a se perguntar como essa expressão foi tão rapidamente legitimada. O terceiro capítulo terá maior interesse para os pós-graduandos e pesquisadores”, disse.
A Emergência Socioambiental
Autor: José Eli da Veiga
Preço: R$ 35
Mais informações e venda on-line: www.editorasenacsp.com.br/
(Por Fábio de Casto, Agência Fapesp, 20/09/2007)