Reunidos no mesmo hotel que, há 15 anos, recebeu delegações de 150 países em busca de propostas para o desenvolvimento sustentável, especialistas não chegaram a um consenso sobre a avaliação dos avanços conquistados desde a conferência da ONU que ficou conhecida como ECO-92. O encontro RIO+15 não foi organizado pelas Nações Unidas nem levou tantos estrangeiros ao Copacabana Palace, como em 1992.
Mas a abertura do evento promovido pela empresa EcoSecurities - ligada ao mercado de créditos de carbono - mostrou que, de acordo com o ponto de vista, os resultados conquistados desde então podem ser apenas os primeiros passos ou, numa visão mais otimista, grandes conquistas de um projeto que está entrando na adolescência.
Entre os pessimistas, estava o secretário-geral da ECO-92, Maurice Strong. Para ele, muito pouco foi feito nos últimos 15 anos, mas "operacionalmente temos que manter o otimismo".
- Perdemos muitas oportunidades, mas desde a RIO-92 temos exemplos de que podemos chegar a um mundo sustentável - disse Strong, falando de Pequim, em entrevista por videoconferência. - Tivemos acertos, mas não em numero suficiente e não ao ponto de incluir todo o planeta em nossa rota sustentável.
Strong alerta para a urgência da inclusão de todos os países num futuro acordo que venha a suceder o Protocolo de Kyoto. Criado há 10 anos para estabelecer um cronograma de redução de emissão de gases do efeito estufa, causadores do aquecimento global, o protocolo entrou em vigor em 2005 sem a ratificação de países como Estados Unidos e Austrália.
O documento conta com propostas apresentadas pelo Brasil, entre elas o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que abre espaço para a contribuição dos países em desenvolvimento, que não tem metas de redução de emissões.
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo defendido
Projetos do gênero permitem que países desenvolvidos comprem créditos de carbono daqueles que reduzirem sua emissão de CO2. O secretário executivo da Comissão Interministerial de Mudança Global no Clima (vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia), José Miguez, defendeu o sucesso do MDL no Brasil como exemplo do avanço conquistado desde 1992.
-Para dois anos, o protocolo [de Kyoto] é um extremo sucesso porque você colocou em operação mais de 2.400 projetos [de MDL] que vão reduzir, em sete anos, 3,8 bilhões de toneladas de CO2 porque você criou um mecanismo de incentivo para os países em desenvolvimento - avaliou Miguez.
Secretário da ECO-92 diz que combate às mudanças climáticas cabe aos países desenvolvidos
Para a ex-coordenadora do programa das Nações Unidas para Mecanismos de Cooperação Christine Zumkeller o MDL é o pilar do Protocolo de Kyoto. Ela diz, no entanto, que há pontos que precisam ser reavaliados.
- O MDL elaborado aqui é o melhor sistema para investir no desenvolvimento sustentável - afirma Christine. - Começou a decolar lentamente em 2005, com a entrada em vigor do Protocolo. Hoje já sabemos o que funcionou e o que não funcionou.
Apesar de concordar com a importância da participação dos países em desenvolvimento, por meio do MDL, o secretário-geral da ECO-92 ressaltou em sua apresentação que a responsabilidade pelo combate às mudanças climáticas cabe aos países desenvolvidos. Para ele, é possível alcançar o desenvolvimento sustentável sem restringir o crescimento econômico de países como Brasil, Índia e China.
- É hipocrisia dos que criaram o problema dizer que a maior dificuldade é com a China ou com a Índia, que ainda estão no início do seu processo de desenvolvimento. Esses países têm que ter acesso a tecnologia e capital para atingir a sustentabilidade - diz Strong. - Você tem que colocar o ônus onde ele recai: Estados Unidos, Canadá, Austrália. Os chineses, por exemplo, estão atrasados sim, mas estão muito envolvidos. Eles precisam de incentivos, e não apenas de chutes.
A China é líder mundial em projetos de MDL, embora seja considerada o país que, hoje, mais emite gás carbônico.
(Por Luisa Guedes, O Globo Online, 19/09/2007)