Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez se reunirão na quinta-feira (20/09) em Manaus, após meses de desencontros, buscando dar novo impulso ao projeto de um gasoduto transcontinental e à adesão da Venezuela ao Mercosul.
Lula dirá a Chávez que o Brasil se interessa pelo Gasoduto do Sul, um projeto de cerca de 20 bilhões de dólares, ligando a Venezuela à Argentina através do Brasil, ao longo de mais de 8.000 quilômetros. Mas o presidente brasileiro pedirá que a estatal venezuelana PDVSA apresente dados concretos sobre a eficácia da obra, vista por muitos como irreal.
"Falta à Venezuela dizer quanto gás vai injetar nesse gasoduto para que a Petrobras avalie o interesse. Faltam informações de que a Petrobras necessita, como as reservas certificadas de gás venezuelanas", disse uma fonte do governo brasileiro à Reuters.
O projeto está praticamente paralisado, e no domingo Chávez declarou que Lula lhe telefonou manifestando interesse de retomar a discussão em Manaus.
A mesma fonte do governo disse que Lula manifestará a Chávez o interesse em que a PDVSA seja sócia da Petrobras na refinaria Abreu e Lima (PE), que deve começar a funcionar em 2011, com capacidade para 200 mil barris por dia.
A obra, de 4 bilhões de dólares, começou neste mês, mas sem a PDVSA, embora a refinaria tenha sido inicialmente anunciada como um empreendimento conjunto das duas estatais. As empresas disseram que ainda não chegaram a um acordo sobre a estrutura societária.
Uma fonte do Palácio do Planalto disse que o presidente do Equador, Rafael Correa, também se encontrará com Chávez e Lula em Manaus.
Apesar de o comércio bilateral ter quadruplicado de 2003 a 2006, atingindo 4,1 bilhões de dólares, Brasília e Caracas viveram atritos nos últimos meses, especialmente por causa das críticas do Senado brasileiro ao fechamento da rede RCTV e da resposta de Chávez, que acusou o Senado de agir como fantoche dos EUA. A adesão da Venezuela ao Mercosul ainda precisa ser ratificada no Congresso brasileiro.
A demora na adesão venezuelana se deve também a questões técnicas, como a definição dos produtos sujeitos a isenções tarifárias.
"O processo de adesão da Venezuela ao Mercosul certamente estará em pauta", disse à Reuters outra fonte diplomática brasileira. "A mensagem será: o governo do Brasil está empenhado em que o Congresso aprove o ingresso da Venezuela, mas as críticas aos legisladores não ajudam."
(Por Guido Nejamkis, Reuters, 19/09/2007)