Empresários reunidos no Rio de Janeiro defenderam nesta quarta-feira (19/09) o investimento em processos produtivos ambientalmente sustentáveis como forma de redução do aquecimento global e de preservação dos recursos do planeta. Eles participam, até amanhã, da Conferência Rio + 15, que marca os 15 anos da realização da Rio-92 e busca fazer uma retrospectiva do que foi implantado ou não desde o encontro na década passada.
“Quem pensa em perpetuar uma organização não pode agir somente com objetivo de produzir cada vez mais, pois a Terra não tem capacidade de acompanhar esse ritmo. A sustentabilidade do planeta significa a manutenção dos nossos negócios. Portanto, não defendemos a proteção ao meio ambiente por simples benevolência, mas porque uma empresa não poderá continuar no futuro se não tiver esta visão”, afirmou o diretor executivo da construtora Camargo Correa (uma das maiores do país, com 30 mil funcionários), José Ayres de Campos.
“Não existe negócio onde não há uma sociedade sadia, com renda e um meio ambiente que garanta a sustentabilidade”, disse Campos. E completou: “Nós não vamos abrir mão do resultado econômico, mas temos que considerar as questões sociais e ambientais. Esse é o paradigma a ser quebrado, pois o mundo vive uma realidade diferente e quem sai na frente estará em vantagem”. Segundo ele, a Camargo Correa criou este ano uma diretoria encarregada unicamente de sustentabilidade ambiental.
A idéia de que proteger o meio ambiente não diminui o lucro das empresas também é defendida pelo diretor executivo da Philips para a América Latina, Manuel Frade. “Não significa a diminuição do lucro das empresas, mas um aumento”, disse. “Apostar em crescimento sustentável é investimento e não despesa. Ao executar um programa de sustentabilidade bem feito, a empresa se valoriza, passa a ser mais admirada e isso é reconhecido pelo mercado no aumento do valor da ações e como os seus clientes compram.”
Segundo o executivo da Philips, cada vez mais o critério de sustentabilidade faz parte da escolha dos fornecedores: “Se você tem uma empresa, não vai querer comprar de alguém que não tem uma ficha de sustentabilidade limpa. Tudo o que você devolve à sociedade, na forma de serviços e de ética, é reconhecido e seu negócio vai para frente”.
O setor público esteve representado no encontro pelo chefe do Departamento de Meio Ambiente da Eletrobrás, Sérgio Barbosa de Almeida. “A questão ambiental é inseparável da questão econômica. Você pensar que são duas coisas separadas é ilusão. E se paga um preço alto, se não levar em conta isso”, defendeu Almeida.
De acordo com ele, qualquer empreendimento gera impacto ambiental, inevitavelmente, mas o desafio é definir com a sociedade o que é aceitável para o desenvolvimento. Almeida citou o caso das usinas projetadas para o Rio Madeira, que despertaram um grande debate nacional, o que, segundo ele, ajudou a aprimorar os projetos.
Entre as iniciativas que devem influir fortemente sobre os programas das empresas de investir em desenvolvimento sustentável está o leilão de créditos de carbono. O primeiro pregão está marcado para quarta-feira (26), na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). O representante da BM&F no evento, embaixador Rubens Antônio Barbosa, afirmou que finalmente esse mercado deve deslanchar no país: “Este leilão, da venda de créditos de carbono relacionado com um aterro sanitário de São Paulo, deve desembocar em outros projetos”.
Segundo o diplomata, uma empresa pode conciliar a defesa do meio ambiente com a obtenção de lucro. “Reduzir a emissão de carbono representa um valor monetário para a empresa, que é cotado internacionalmente. No Brasil, a cotação ainda está baixa, mas na Europa o valor é bem mais alto e a tendência é crescer e se tornar uma receita fixa para a empresa”, ressaltou o embaixador.
(Por Vladimir Platonow, Agência Brasil, 19/09/2007)