O enfrentamento das mudanças climáticas no planeta deve recair sobre os países desenvolvidos, que criaram o problema. A avaliação é do canadense Maurice Strong, que foi secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento, conhecida como Cúpula da Terra, Rio-92 ou Eco-92.
Ele participou nesta quarta-feira (19/09), por videoconferência, da abertura da Conferência Internacional Rio + 15, seminário promovido, no Rio, por uma empresa da área de projetos para redução de emissão de gases causadores do efeito estufa. O evento tem como mote os desafios e perspectivas no combate ao aquecimento global 15 anos depois da Rio-92.
Strong avaliou como uma hipocrisia a posição de países desenvolvidos de esperar que países em desenvolvimento, que lançam hoje grande quantidade de gás carbônico na atmosfera (considerado principal causador do aquecimento global), tomem a dianteira e reduzam suas emissões de gases.
“É totalmente hipócrita que os países que criaram o problema sugiram que agora que o fardo recaia sobre Índia e China, que ainda estão no início do seu processo de desenvolvimento. Esses países têm que ter acesso a tecnologia e capital para atingir a sustentabilidade”. E acrescentou: “Temos que colocar o ônus sobre Estados Unidos, Canadá, Austrália. A China está atrasada, mas vem avançando e o que precisa é de cooperação”.
Considerada hoje o país que mais emite gás carbônico, a China também é a primeira no mundo em projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), criado pelo Protocolo de Kyoto para estimular iniciativas de controle ao aquecimento global.
De acordo com Strong, o mundo não avançou muito desde a Rio-92 no sentido de reverter o avanço das mudanças climáticas que podem pôr em risco a vida no planeta, principalmente porque falta vontade política.
“Analiticamente sou pessimista, mas operacionalmente temos que ser otimistas. Temos muitos exemplos que mostram que é possível [reverter o fenômeno]; alguns acertos, mas não em número suficiente, não a ponto de incluir todo o planeta na rota sustentável.”
Ele defendeu a assinatura de tratado universal que envolva todos os países num processo de cooperação. Hoje, 192 países são signatários da Convenção- Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e só 175 assinaram o Protocolo de Quioto, que estipula metas de redução na emissão de gases que aumentam o efeito estufa.
O canadense parabenizou o Brasil pela sua atuação: “Alguns dos maiores avanços foram feitos no país, com enormes sucesso no desenvolvimento econômico em harmonia com o meio ambiente. E não podemos esquecer que a criação do MDL foi uma proposta brasileira”.
Strong lembrou a liderança do país na produção dos biocombustíveis a partir do uso da cana-de-açúcar e também da biomassa. Sobre a Amazônia, afirmou que a região é uma das reservas biológicas mais ricas do mundo e destacou a soberania do país para preservá-la. “Em vez de dizer ao Brasil o que o deve ser feito para protegê-la nós devemos desenvolver um programa de cooperação que permita isso”, propôs.
(Por Adriana Brendler, Agência Brasil, 19/09/2007)