Apoiados pela Casa Branca, governadores de estados com plantações de milhos e blocos sólidos de ambos os lados da divisão partidária do Congresso, os políticos do biocombustível não poderiam estar mais felizes. A economia da iniciativa americana em aumentar o etanol no estoque de energia já é mais desencorajadora.
O etanol americano feito de milho é caro. E por mais que ele possa reduzir a importação de petróleo e fornecer reduções modestas nas emissões de gases poluentes comparado com a gasolina convencional, o etanol de milho também tem riscos consideráveis. Mesmo agora que a China e a Europa se uniram aos EUA para aumentar a produção, os preços dos alimentos estão subindo, podendo levar a miséria aos países mais pobres.
A União Européia anunciou que quer substituir 10% de seu combustível de transportes com biocombustíveis até 2020. A China planeja uma parcela de 15%. Os EUA já estão a caminho de exceder o objetivo estabelecido pelo Congresso em 2005 de dobrar a quantidade de etanol usado para 7.5 bilhões de galões até 2012. Em seu discurso do Estado da União dado em janeiro, o presidente Bush estabeleceu um novo objetivo de 35 bilhões de galões de biocombustíveis até 2017. Em junho, o Senado elevou para 36 bilhões até 2022. Desse total, o Congresso disse que 15 bilhões de galões devem vir do milho e os outros 21 bilhões de biocombustíveis avançados, que não estão nem perto de atingir a produção comercial.
As distorções na produção agrícola são assustadoras. O preço do milho subiu 50% comparados ao ano passado, enquanto o preço da soja pode aumentar mais de 30% no próximo ano, enquanto os fazendeiros substituíram soja por milho em seus campos. O custo cada vez maior da alimentação animal está aumentando os preços de produtos de laticínios e de aves.
As notícias do resto do mundo são um pouco melhor. A produção de etanol nos EUA e em outros países, combinada com condições climáticas ruins e a demanda crescente por alimentação de animais na China, ajudou a aumentar os preços globais de grãos aos níveis mais altos da última década. No começo desse ano, a ascensão dos preços das exportações de milho dos EUA causou protestos em massa no México. O chefe da Organização de Alimentos e Agricultura avisou que o aumento dos preços de alimentos ao redor do mundo pode dar início a rebeliões sociais em países em desenvolvimento.
Um recente relatório feito pela Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento, um fórum econômico de nações ricas, pediu para os EUA e outros países industrializados eliminarem os subsídios para a produção de etanol que, de acordo com o relatório, está aumentando os preços dos alimentos, ameaçando habitats naturais e impondo custos ambientais. “Os impactos ambientais gerais do etanol e do biodiesel podem facilmente exceder os do petróleo e o diesel mineral”, ele diz.
A economia do etanol de milho nunca fez muito sentido. Ao invés de importar etanol barato brasileiro feito de cana de açúcar, os EUA atacam com um imposto de 54 centavos por galão de etanol do Brasil. Então, o governo dá um corte de imposto de 51 centavos por galão para os produtores de etanol americanos – além dos generosos subsídios que os cultivadores de milho já recebem sob o programa agrícola.
O etanol de milho também exige muita terra. Um relatório feito há dois anos sugere que substituir 10% do combustível da América por biocombustíveis precisaria de cerca de um terço do total das terras férteis de cultivo de grãos, sementes e açúcar.
Além disso, os benefícios ambientais são modestos. Um estudo publicado ano passado por cientistas da Universidade da Califórnia, Berkeley, estimou que depois de contabilizar a energia usada para cultivar milho e transformá-lo em etanol, as emissões de gases diminuem 13%. Os EUA não conseguirão alcançar os objetivos de reduzir o aquecimento global e sua dependência externa de energia até que consigam diminuir o seu consumo. Esse deve ser seu principal objetivo.
Não há nada errado em desenvolver combustíveis alternativos, e existe esperança entre ambientalistas e até mesmo capitalistas de risco de que os biocombustíveis avançados – como o etanol celulósico – possam ter um papel construtivo em reduzir a independência de petróleo e as emissões de gases. O que é errado é deixar a política – o tipo que leva a subsídios desnecessários, invasão sem sentido de paisagens naturais e preços de alimentos em ascensão que prejudicam os pobres – ao invés da ciência e economia, guiar a política energética dos EUA.
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The New York Times, 19/09/2007)