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2007-09-19

Nem metrô, nem carro. É o velho ônibus, o mais manjado sistema de transporte coletivo, a solução mais inteligente para o trânsito das grandes cidades. Além de ser menos custoso em termos de infra-estrutura e manutenção, é o tipo de veículo que tem maior envergadura de alcance como transporte público. O problema é que ele vira um estorvo quando anda junto com carros. O que significa dizer o seguinte: se houvesse corredores nas cidades exclusivos para ônibus, o transporte público melhoraria e o meio ambiente teria muito a agradecer.

Quem defende o que parece ser uma heresia é uma recente simulação feita pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) em três tipos de vias da cidade de São Paulo. Ela mediu as emissões de poluentes em três situações diferentes e confirmou que a eficiência é o principal aliado do usuário de transporte e da boa qualidade do ar.

A simulação comparou diferentes padrões de tráfego urbano. Em relação ao tráfego normal, onde os veículos se misturam em vias comuns – ciclo designado como Manhattan – o ciclo Orange County, que simula ônibus circulando em corredores próprios, obteve redução de 38% nas emissões de monóxido de carbono (CO) e hidrocarbonetos (HC), 26% de óxido de nitrogênio (NOx) e 44% de material particulado (MP). O ciclo Expresso, simulado no corredor Expresso Tiradentes, teve resultados ainda mais positivos. Foram 74% a menos nas emissões de CO, 46% de HC e 57% de NOx e de MP (Entenda mais sobre poluentes). Ou seja: quanto mais corredores, que possibilitem o trajeto dos ônibus em uma velocidade uniforme, menos poluição atmosférica.

A lógica é simples, mas a complexidade do sistema viário local e das necessidades e desejos da população vai na corrente inversa. Segundo a Seade – Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados, a frota de automóveis na região metropolitana de São Paulo aumentou de 4.596.825 para 5.491.331 no período de 2002 a 2006, o que corresponde a cerca de 20% a mais de carros em circulação. Com eles vêm os congestionamentos e mais emissões de poluentes.

Os velhos vilões

Segundo Eric Ferreira, especialista em transportes do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IMAE), o usuário de carro não paga pelo impacto real que provoca na sociedade. Um exemplo? A poluição do ar. O IMAE é ligado à Fundação Hewlett, que patrocinou o estudo do IPT junto ao ISSRC e à SPTrans (São Paulo Transporte).

Dados do último relatório da qualidade do ar da Cetesb, Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, mostram que os veículos individuais são as principais fontes de emissão de CO e HC, alcançando até 80% do total na cidade. Os veículos pesados não representam parcela significativa.

“Cada vez que aumenta a venda de carros, menor a capacidade competitiva do transporte público na cidade”, afirma Ferreira. “Se for para ficar parado no trânsito, é muito melhor estar dentro do carro, ouvindo a rádio, do que em pé dentro de um ônibus lotado”. Segundo o especialista, além de a tarifa ser cara (2,30 reais), equivalente a de países desenvolvidos, a frota de ônibus não dá conta da quantidade de usuários e está longe de proporcionar o que o metrô da cidade oferece: confiabilidade.

É justamente esse sentimento, de saber o horário de ida do ponto de partida e chegada ao destino final, que estimula uma parcela da população a usar o metrô e os ônibus de corredores expressos ao invés do carro.

Eficiência

Recentemente a prefeitura de São Paulo anunciou a implantação de mais cinco corredores de ônibus na cidade. São as linhas Corifeu / Jaguaré / Faria Lima, com 14,4 quilômetros de extensão, a Indianópolis / Brasil / Sumaré, com 18,7 km, a Berrini, com 3 km, a Brás Leme, com 4 km, e a São Miguel / Celso Garcia / Centro, com 13 km. Ao total serão 53,10 km a mais de corredores que, se gerenciados do mesmo modo que os já existentes, estarão longe de proporcionar a confiabilidade desejada pelo usuário.

Corredores como os das avenidas Nove de Julho e Rebouças, administrados pela empresa SPTrans, são muito menos eficientes que o corredor expresso São Mateus – Jabaquara, da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos), que vai da zona sul à zona norte da cidade e atravessa quatro municípios – Diadema, São Bernardo do Campo, Santo André e Mauá. A comparação equipara-se aos ciclos Orange County e Expresso. Eficiência e boa qualidade do ar andam de mãos dadas.

Numa tarde de um dia de semana uma viagem do Terminal Rodoviário do Jabaquara, na zona sul da cidade, até o terminal da região central de Diadema, município vizinho, dura 10 minutos. Este é tempo que se leva do Terminal Bandeira, na região central de São Paulo, até a altura do número 3.562 da avenida Nove de Julho, sentido bairro, no bairro de Cerqueira César (Jardins). São 5 contra 3,8 quilômetros percorridos no mesmo período de tempo.

Ainda em 10 minutos, a reportagem de O Eco contou 43 motos, nove táxis sem passageiros e oito carros particulares circulando nas faixas exclusivas de ônibus do corredor Nove de Julho – Santo Amaro. Segundo a portaria nº 55 da legislação municipal, até 31 de outubro de 2007 é permitida a circulação de táxis com passageiros nos corredores. Assinada pelo então secretário de transportes Frederico Bussinger, a lei considera que o serviço de táxi contribui para a redução de congestionamentos e, desde 2005, quando publicada, “vem demonstrando benefício aos passageiros e taxistas, sem afetar a circulação dos ônibus”.

No entanto, não é essa a conclusão do relatório do IPT, que aponta o Expresso Tiradentes como exemplo de corredor mais eficiente e ecologicamente correto, já que a redução do consumo de combustível e das emissões de poluentes é da ordem de 50%, enquanto em corredores comuns a redução da poluição vai de 30 a 40%. O Eco procurou entrar em contato com o secretário de transportes e presidente da SpTrans, Alexandre de Moraes, para obter esclarecimentos relacionados aos resultados do relatório, mas a assessoria de imprensa informou que o documento ainda está em análise.

Enquanto o sistema de transporte público continuar sofrendo a interferência de decisões casuísticas, sem base técnica, como a que permite que os táxis usem os corredores anteriormente chamados de “exclusivos” para ônibus, as pessoas continuarão optando por usar os seus carros. O trânsito continuará piorando e a qualidade do ar da metrópole paulista chegará a níveis ainda mais alarmantes. A preocupação da prefeitura com a implantação da inspeção veicular, não tão eficiente quanto alardeada será de pouco valor para os pulmões dos paulistanos.

(Por Carla di Cologna, OEco, 18/09/2007)


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