A união amazônica de indígenas, ribeirinhos e seringueiros agrega povos de outros biomas tradicionais para ampliar frente contra o modelo de desenvolvimento que segue pressionando comunidades tradicionaisComeçou na terça-feira (18/09), em Brasília (DF), o II Encontro Nacional dos Povos da Floresta, que reúne milhares de representantes de comunidades da Amazônia para tratar das mudanças climáticas e debater a questão do desenvolvimento. A defesa das florestas e de outros biomas únicos do país se concentra, segundo os organizadores do evento, no desafio de construção de uma agenda alternativa que leve em conta a preservação do meio ambiente e contribua para a redução da pobreza dos povos tradicionais que estão diretamente ligados aos ecossistemas em que vivem.
"Queremos apontar novas estratégias de luta para as ameaças que ainda persistem. Nossos espaços sofrem pressão do agronegócio, das empresas mineradoras e farmacêuticas, bem como dos programas de infra-estrutura que impactam diretamente nossos territórios", descreve Jecinaldo Saterê-Mawê, coordenador geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), uma das entidades - as outras são o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) e o Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) - que organiza o encontro que se estenderá até domingo (23) na capital federal.
O I Encontro Nacional foi realizado em 1989 - em Rio Branco (AC), sob a liderança do seringueiro Chico Mendes - e selou o início da Aliança dos Povos da Floresta, que reúne organizações formadas por comunidades tradicionais das mais diversas partes da Amazônia. Agora, quase 20 anos depois, os movimentos fazem uma avaliação dos anos de resistência em prol da maior floresta tropical do mundo e passam a incluir no debate o Cerrado, a Caatinga e o Pantanal. "Percebemos que os mesmos problemas ocorrem em outras florestas brasileiras. Vamos ampliar a nossa rede e ganhar força e participação. Não estamos dispostos a aceitar a destruição das florestas", anuncia Jecinaldo.
Para Julio Barbosa, vice-presidente do CNS, o ponto-chave do encontro reside na disputa acerca do modelo de desenvolvimento. "Desde que surgiu, a Aliança já teve muitas conquistas: a criação de reservas extrativistas, a ampliação e demarcação de terras indígenas, etc. Mas isso não basta, precisamos de uma política em que outro conceito de desenvolvimento da Amazônia seja levado em consideração". E completa: "Não podemos continuar pensando em grandes projetos. É preciso uma profunda reflexão: o que é mais importante? Exportar mais soja, expandir a área plantada de cana-de-açúcar e levar mais gado para região ou valorizar os nossos recursos naturais?".
Esta segunda edição do encontro também pretende retomar o protagonismo dos amazônidas no debate sobre o futuro da região que, com a discussão sobre mudanças climáticas, ganha cada vez mais projeção internacional. "Nada melhor do que os próprios povos da floresta pensem o futuro. A gente sabe que a soja e o agronegócio não são propícios para a Amazônia", frisa Jecinaldo. "Viemos à Brasília para afirmar a luta que levou à morte de Chico Mendes e de outras lideranças indígenas e da floresta. E não estamos dispostos a trair essa luta, por mais que o desafio seja enorme."
Programação completa do II Encontro Nacional dos Povos da Floresta.
(Por Beatriz Camargo,
Reporter Brasil, 17/09/2007)