Ufrgs é palco de atividades da Marcha do MST rumo à fazenda Coqueiros
mst
eucalipto no pampa
2007-09-18
Uma das três marchas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) promoveu atividades na Ufrgs em parceria com o Diretório Central dos Estudantes (DCE) e diretórios acadêmicos (DALC e DAGE), respectivamente Agronomia e Geografia. Esta é uma das três marchas rumo à Fazenda Coqueiros, da família Guerra, em Coqueiros do Sul. As outras duas marchas também mobilizam em torno de 500 famílias, uma saindo de Pelotas e outra de São Luiz Gonzaga.
A passada por Porto Alegre foi marcada pela ocupação do prédio do Incra, exigindo a abertura nas negociações sobre a desapropriação da fazenda. Reuniões tensas e conclusivas de que o governo federal está sem vontade política para retomar o processo de reforma agrária. Esta vontade se traduz em números absurdos, de que além da média de famílias assentadas no RS pelo governo Lula já é menor do que o FHC, os números se aproximam ao período do regime militar onde nenhuma família foi assentada. No ano de 2007 nenhuma família foi assentada no RS e existem mais de 2500 acampadas por todo estado.
As justificativas do superintendente do Incra/RS, passadas pelos seus superiores em Brasília, são que a fazenda Coqueiros é um símbolo do agronegócio, e que o governo Lula está investindo no setor principalmente para buscar o superávit primário através da exportação de produtos primários, assim pagando em dia os juros da dívida externa brasileira. E pasmem, foi alegado que há uma pressão enorme da bancada ruralista gaúcha e brasileira pela não desapropriação, bancada essa que faz parte da base aliada. E sequer a compra da fazenda é cogitada, pois os recursos para a área social são reduzidos para investimentos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Para os dirigentes do MST, toda a máscara está caindo e que não há mais perspectivas em relação ao governo petista.
Outra denúncia é a forma como a Reforma Agrária de todo governo Lula está sendo feita, pois nenhuma área foi desapropriada, todas foram compradas dos latifundiários, sendo que na ampla maioria em comum acordo com o dono. Isso evidencia que a estrutura fundiária brasileira não muda, pois o mesmo proprietário que vendeu a sua fazenda poderá comprar terras em outro local, do estado ou país, perpetuando a concentração.
Mauro Cibulski, dirigente do MST, também condenou a política da monocultura de eucalipto para beneficiar as indústrias de celulose. "Ela não gera emprego, agride o meio ambiente e inviabiliza a reforma agrária". Na caminhada o MST tem o objetivo de promover o debate sobre reforma agrária em escolas, universidades e nos bairros da cidade por onde passam, além de exigir a imediata retomada de assentamentos dos governos estadual e federal.
O MST lembra através de panfletos que a antiga Fazenda Annoni, com 420 famílias, tem o mesmo tamanho de Coqueiros e produz anualmente em torno de 20 mil sacas de trigo, 6 milhões de litros de leite, 150 mil sacas de soja, 35 mil sacas de milho, 45 toneladas de frutas e 10 mil quilos de hortaliças, e tem 800 cabeças de gado e 5 mil cabeças de suínos.
Hoje a marcha está em Canoas, em um pavilhão de uma antiga fábrica, no bairro Cinco Colônias, permanecendo até terça-feira, 18 de setembro. Sairão em caminhada até São Leopoldo onde ficarão no dia 20 de setembro. A meta é que as três marchas se encontrem na primeira semana de outubro na Fazenda Coqueiros.
Para nós fica o total apoio, além de divulgar a marcha. Mas também fica a tarefa de ampliar o debate em nosso meio de atuação, e maneiras concretas de ajuda. Pelo número de participantes, a Marcha precisa de uma enorme infra-estrutura. Além de água, alimentos, energia, muitos ajudantes, pois somente na Marcha que passou por aqui há 131 crianças. Uma das formas de nossa ajuda será através da arrecadação de alimentos, e a promoção de uma festa temática para divulgação e conseguir fundos.
Ficou o convite da participação na Marcha, pois ela representa muito mais que a busca dos objetivos específicos, representa todos os explorados da nossa sociedade, cada caminhante representa dezenas, centenas ou milhares de outros companheiros e companheiras. Isso está simbolizado em dois sujeitos da caminhada. As enormes bolhas no pé da trabalhadora, depois de 9 quilômetros percorridos naquele dia e sua indiferença à dor, e as palavras de um senhor de idade que já está assentado e poderia estar feliz em sua terra conquistada: "quase não agüento mais estas caminhadas, minhas pernas tremem,o sol é de rachar, mas olho para o meu lado e vejo uma mãe carregando seus filhos, na minha frente um homem mais idoso que eu, atrás, muitas pessoas que estão a um quilômetro de mim. Resisto, pois é preciso seguir e resistir! É preciso lutar!"
(Por Eduardo Luís Ruppenthal, Texto recebido por E-mail, 17/09/2007)
Integrante do DCE/Ufrgs – Gestão Instinto Coletivo
Membro do Garra – Grupo de Apoio à Reforma Agrária.
Membro do Fórum Ecossocialista.