As restrições à queima de canaviais impostas por governos estaduais e por diversas prefeituras se tornaram a maior preocupação dos usineiros do centro-sul do Brasil, disse uma fonte do setor sucro-alcooleiro na segunda-feira.
A queimada, que serve para eliminar pragas e folhas antes da colheita manual, foi proibida nos últimos meses em várias cidades, levando vários produtores a recorrem à Justiça.
"Se formos olhar toda a energia que gastamos para resolver esses problemas... Precisaríamos ter um diálogo mais amplo para tentar encontrar soluções e não aumentar esse imbróglio judicial", disse Marcos Jank, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
A entidade não soube estimar os efeitos da proibição sobre a produção de açúcar e álcool.
São Paulo, onde uma lei prevê a eliminação gradual das queimadas, restringe a prática em alguns períodos desde o ano passado, para evitar problemas respiratórios. Recentemente, o Estado fez um acordo com usineiros oferecendo incentivos para os produtores que pararem as queimadas antes da data prevista na lei.
Também neste ano surgiram várias proibições municipais, acompanhando o aumento na área ocupada por lavouras de cana, em consequência da forte demanda por etanol.
"Estamos fazendo tudo o que podemos para acabar com as queimadas, mas na velocidade adequada, gradualmente. Alguns fatos deveriam ser levados em conta (pelos municípios), como o enorme número de empregados nesse setor e a disponibilidade de colheitadeiras mecânicas", disse Jank à Reuters em meio a sua participação num seminário.
A maioria das usinas paulistas deve aderir nos próximos meses ao acordo voluntário, que estabelece o fim das queimadas até 2014, com algumas exceções.
Jank disse que o fim da colheita manual da cana causará o fim de 114 mil empregos no Estado, responsável por 60 por cento da produção nacional de cana. Cerca de 60 mil trabalhadores seriam absorvidos pela agricultura mecanizada, e outros 20 mil seriam transferidos para áreas industriais das usinas, segundo cálculos do setor.
A falta de colheitadeiras numa época de forte demanda é outro problema, disse Jank. Depois de feita a encomenda, uma máquina pode levar mais de um ano para ser entregue à usina. "Se tivéssemos máquinas suficientes, poderíamos discutir o fim antecipado da queima da cana", disse Jank.
Participando do mesmo evento, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que o governo federal pretende trabalhar com os Estados para discutir formas de minimizar o problema, mas lembrou que os Estados têm autonomia para legislar sobre esse assunto.
Há previsão de que o setor receba investimentos de 17 bilhões de reais em novas usinas.
(Por Inaê Riveras,
Reuters/Brasil Online, 17/09/2007)