Chantagens, ameaças, presença militar e policial exagerada, ofertas a camponeses, shows midiáticos. Nada foi suficiente para impedir o povo de Piura de participar da Consulta Popular realizada ontem (16) sobre a presença da mineradora Majaz na região. E o povo foi categórico em repudiar a presença dela; dos mais de 17 mil votantes, 93,8% optou pelo Não à atividade mineira na província.
Em Carmen de la Frontera, 2.898 pessoas se puseram contra a presença da mineradora. Em Pacaipampa, a oposiçaõ foi de 97,6% (5.900 votantes), enquanto que em Ayabaca foi de 95.4%, com 8.470 votos.
Ao contrário das eleições oficiais, essa foi uma voluntária em uma zona rural, na qual muitos moradores tiveram que se deslocar de lugares muito distantes para expressar sua posição. Ainda assim, 67,1% dos moradores da região responderam à pergunta: Você concorda com a atividade mineira em seu distrito?
Os integrantes da Rede "Água, desenvolvimento e democracia" saudaram o exercício democrático e descentralizador das mulheres e homens das cabeceiras de bacias de águas na zona andina, que apesar do boicote massivo promovido pelo governo oficial e das barreiras geográficas foram às urnas apontar que modelo de desenvolvimento querem.
"Nem tê-los tachado de terroristas, narcotraficantes, anti-peruanos, pró-chilenos, ilegais e primitivos, pelas mais altas autoridades do governo central e jornalistas alinhados com o "Sim ou Sim" ao investimento mineiro, conseguiu amedrontar as comunidades camponesas e vizinhos dos distritos de Carmen de la Frontera, Ayabaca e Pacaipampa", disse o comunicado da Rede.
Para a Rede, isso foi um Não consciente da realidade e da presença de um conjunto de concessões mineiras nas nascentes dos rios. Um Não que coincide com os ditames de entidades oficiais sobre a necessária conservação da biodiversidade, do corredor biológico Tabaconas Namballe-Podocarpus e da bacia Binacional Catamayo-Chira. Em tempos de acelerada mudança climática, que converte a água em recurso estratégico para a vida, é necessário preservar as nascentes de águas que discorrem do alto da região.
Há anos que o projeto Rio Branco/Majaz vem desinformando as comunidades camponesas de Yanta (Ayabaca) e de Segunda e Cajas (Huancabamba) sobre suas reais pretensões de exploração mineira na mina da colina Huamaní, publicizando como um projeto focalizado na colina Henry Hill (bacia do rio Chinchipe), escondendo sua extensão até a vertente ocidental da mina (bacia do rio Quiroz).
O Governo peruano e Majaz costumam dizer que a atividade mineira leva benefícios a Piura, mas a empresa ofereceu um milhão para tentar com que o Ministério de Energia e Minas aprove o Estudo de Impacto Ambiental sobre a área. Além disso, nunca são apresentados os estudos com os casos de sucesso da presença mineira no Peru, nem em qualquer outro lugar da América do Sul.
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Adital, 17/09/2007)