Os capixabas estão sendo mais intensamente intoxicados por venenos agrícolas do que os mineiros e fluminenses. Somente em um grupo dos venenos, os de uso agrícola, de um total de 892 intoxicações registradas nos três estados, o Espírito Santo contabilizou 539 intoxicações, segundo dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox).
O Sinitox é da Fundação Osvaldo Cruz. Com o título "Casos Registrados de Intoxicação Humana por Agente Tóxico e Centros dos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, 2005", este é o último levantamento realizado pelo Sinitox, divulgado na semana passada. O relatório aponta que os agrotóxicos de uso agrícola nos três estados responderam por 4,96% dos casos de intoxicação no país. No Brasil, os agrotóxicos de uso agrícola foram responsáveis por 5.577 notificações em 2005.
No total, em 2005, outros 215 capixabas foram contaminados por agrotóxicos de uso doméstico. Nos três estados foram registrados 510 casos. Venenos de uso veterinário causaram 40 intoxicações no Espírito Santo, e 88 nos três estados. Os raticidas intoxicaram 92 pessoas no Espírito Santo, 381 nos três estados. Os venenos classificados como domissanitários produziram no Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais 1485 intoxicações em 2005, dos quais 528 só no Espírito Santo.
Os números se tornam ainda mais impressionantes quando se compara a população dos três estados em 2005: o Espírito Santo tinha população estimada em 3.408.365; o Rio de Janeiro, 15.383.407, e Minais Gerais, 19.237.450 habitantes.
Embora os números mais expressivos sejam de intoxicação relacionada com animais peçonhentos e medicamentos, segundo o relatório, os agrotóxicos causam o maior número de mortes (33%). Os medicamentos foram responsáveis por 18%, os raticidas por 11% e os animais peçonhentos por 9%.
Os agrotóxicos de uso agrícola são os agentes tóxicos mais letais: quase 3% dos casos terminam em morte. O número de mortes por intoxicação cresceu bastante de modo geral, com 456 óbitos registrados em 2005, 18% a mais do que em 2004.
O impacto dos agrotóxicos pode ser ainda maior do que o mostrado pelos números, pois os dados são só de casos agudos. Os especialistas acreditam que haja muitos casos crônicos que não são notificados. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os dados apurados em serviços desta natureza devem ser multiplicados por 50. Há pesquisadores que apontam para 500 mil intoxicados por ano no Brasil, com 10 mil mortes anuais.
O agente tóxico mais letal é o Temik, da Bayer, vendido com o nome de "chumbinho", que mata 1,65% dos intoxicados.
No país, as intoxicações por medicamentos lideravam os casos até 2004, mas em foram superadas pelos casos envolvendo animais peçonhentos - mais de um terço causado por escorpiões.
Em 2005 em todo o país foram registrados 84.456 casos de intoxicação humana, apurados dados de 28 dos 34 Centros de Informação e Assistência Toxicológica em atividade no Brasil naquele ano.
Em 2005, os animais peçonhentos responderam por 23.647 (28%) dos casos de intoxicações em seres humanos no país. Desse total, 8.208 (35%) envolveram escorpiões. As serpentes contribuíram com 4.944 (21%), as aranhas com 4.661 (20%) e os demais animais peçonhentos com 5.834 (25%).
Os casos de intoxicações por medicamentos vieram logo atrás, com 26% do total.
Os agrotóxicos impactam a saúde e o ambiente, mas as receitas dos fabricantes são crescentes. Em 2001, as sete maiores empresas de agrobiotecnologia do mundo já somavam, em receitas, cerca de 23 bilhões de dólares. Os pesquisadores apontam que boa parte das empresas que monopoliza o mercado de agrotóxicos domina também o mercado de sementes.
No Brasil, em 2004, as empresas registraram o faturamento líquido de 4,9 bilhões de dólares na venda de agrotóxicos, segundo registro da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 18/09/2007)