Gaúchos têm aula sobre lixo no acampamento tradicionalista em Porto Alegre
separação de lixo
política nacional de resíduos
2007-09-17
“Mas bah, tchê! Chega de lixo!” é o nome da esquete teatral apresentada no Acampamento Farroupilha, em Porto Alegre, desde o dia 05 de setembro, pelos agentes do Serviço de Assessoria Socioambiental (Sasa) do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU). A apresentação simula uma equipe de televisão que entrevista com muito bom humor os visitantes e acampados no Parque Harmonia sobre a necessidade da separação do lixo orgânico e inorgânico.
Entre os personagens destacam-se o câmera "Foco de Lixo", o entrevistador "Gariólogo" (da palavra gari) e o "Patrão da Querência" ou "Profeta do Meio Ambiente", que anda com a tábua dos “10 Mandamentos do Asseio Público”. O trabalho integrou a Semana da Cidade Limpa, de 8 a 14 de setembro, instituída pela Lei Municipal nº 9.222, de 01/2006.
“As pessoas param para olhar esses três personagens curiosos caminhando pelo Parque. É uma forma de chamar a atenção da população para os cuidados com o lixo e com a higiene do acampamento, conversando diretamente com cada um e entregando material informativo com os dias de coleta de lixo seletivo em cada um dos bairros da cidade”, explica a socióloga e coordenadora do Sasa, Gisane Gomes, que sempre que pode acompanha o grupo.
Túnel de Sensibilização
A equipe montou pelo 4º ano consecutivo um piquete no acampamento que conta com o tradicional Túnel de Sensibilização, batizado de “Picada dos três R´s” (reduzir, reaproveitar e reciclar) que busca conscientizar os visitantes e principalmente os alunos de 1ª a 8ª série para a educação ambiental com uma linguagem adaptada à cultura gauchesca. Para este ano estima-se que cerca de 3.000 pessoas passem pelo Túnel.
Logo na entrada, o visitante se depara com um “lixão simulado” feito com jornais, areia, frutas de plástico, entre outros objetos, num ambiente escuro e quente. Os monitores falam dos malefícios originados por esse modelo de destinação de resíduo urbano, a partir de fotos do antigo lixão da Zona Norte da cidade - desativado em 1989 graças às reclamações dos moradores daquela área. Entre os principais problemas destacam-se a poluição do solo e do lençol freático, a destruição da vegetação do entorno, além da transmissão de doenças como a peste bubônica, infecções, verminoses e cólera.
“Cerca de 600 pessoas extraíam seu sustento do antigo lixão. Eu me lembro de um grupo de meninos jogando bola naquele local, e de um deles parar o jogo para ir buscar uma salsicha que estava no meio do lixo e começar a comê-la com a maior naturalidade,” relata o educador ambiental, Jovino Ribeiro. “Era uma realidade degradante, mas, por incrível que pareça, 75% das cidades do País ainda possuem este tipo de destino final para as toneladas de lixo que produzem,” constata.
Viagem do lixo
Porto Alegre gera mais de 1.600 toneladas de resíduo sólido urbano por dia. Desse número, apenas 60 toneladas são da coleta seletiva, 300 toneladas são oriundas da varrição pública, 900 são resíduos residenciais não separados, dos quais 300 são potencialmente recicláveis e o restante é resíduo industrial e hospitalar. Todo o resíduo urbano gerado da coleta domiciliar viaja diariamente 100 km até o aterro sanitário em Minas do Leão, no interior do Estado.
Para facilitar a compreensão e dar uma idéia da dimensão do lixo produzido, os educadores comparam o resíduo a um elefante, que pesa em média 4 toneladas. “900 toneladas de resíduo equivalem a 225 elefantes. Imagine esse número de elefantes amontoados para entender o que nós produzimos todos os dias,” explica a um grupo de alunos o monitor Marcelo Coimbra, que há 10 anos trabalha com Educação Ambiental. “Quanto mais separarmos em casa o lixo, menos resíduos vamos mandar para o aterro,” conclui.
As crianças se impressionam com os números e entendem o que precisam fazer. Quando perguntado sobre onde jogar o palito de picolé que tinha na mão, Daniel Fonseca, aluno da 5ª série, responde sem titubear. “No lixo orgânico, porque a madeira se decompõe”, afirma o garoto de 11 anos que visita o piquete desde 2005 acompanhado do irmão mais velho e do amigo.
Reaproveitamento
No Túnel também estão expostos objetos feitos a partir de materiais recicláveis coletados nos 47 postos de entrega voluntária espalhados pela cidade. São garrafas de refrigerante, isopor, embalagem longa vida, pneus velhos, tampas de garrafa e até CD´s. Com eles pode-se confeccionar porta-retratos, telhas, luminárias, vassoura com cerdas de plástico reutilizável, potes, brinquedos, entre outros utensílios.
No piquete há um espaço aberto onde foi colocada uma composteira feita com cascas de frutas, restos de legumes, folhas e plantas mortas e papel higiênico usado, que depois de decomposto vira um excelente adubo. “É um exemplo do que pode ser feito em casa, com o lixo orgânico que a família produz e que depois vai adubar a horta do quintal. Quem mora em apartamento também pode fazer uma pequena composteira, e não precisa se preocupar que não deixa cheiro e nem atrai insetos ou baratas,” garante um dos educadores ambientais, Alexandre Borges.
Há também um espaço para o museu Relíquias do Lixo, com uma pequena exposição de objetos antigos de uso doméstico que são jogados fora indiscriminadamente, como ferro de passar roupa, telefone e relógios.
Informações sobre o reaproveitamento do óleo de cozinha também estão colocadas. Um pequeno fogão feito de papelão com uma frigideira de brinquedo com ovo frito, lingüiça e outros alimentos alerta para o correto destino do óleo comum das residências: os 24 postos de entrega espalhados pela cidade. Frases de conscientização são colocadas no caminho do Túnel: “Não jogues óleo pelo ralo, vivente! Um litro de óleo polui um milhão de litros de água! Mas bah!”
Caminho da preservação
Um outro projeto é o convênio entre DMLU e 24 estabelecimentos da cidade que recolhe diariamente 5 toneladas de comida que sobrou nas panelas e entrega a 14 criadores que alimentam cerca de 990 suínos. A criação é controlada por causa das fezes do animal e a contrapartida dos criadores é o pagamento mensal de cestas básicas às creches comunitárias da redondeza.
“Denuncie a poda ilegal e as queimadas. Não toques fogo no mato, vivente!” é a frase que alerta para a preservação das matas e florestas. “50 quilos de papel velho transformados em papel novo poupam uma árvore, assim como 1.000 quilos de alumínio reciclado economizam 5.000 quilos de minério que seriam extraídos da natureza,” informam os educadores aos visitantes.
Toda a exposição no piquete pode ser vista até o dia 19 de setembro, mas escolas e empresas podem contatar a Divisão de Projetos Sociais Reciclagem– Reaproveitamento (DSR) do DMLU e solicitar agendamento para receber o curso “Chega de Lixo, trilhando os caminhos da preservação!” que conta com palestra, apresentação do teatro que dura em torno de 40 minutos e músicas com composições para a conscientização ambiental. Mais de 450 escolas já participaram do projeto. Para esse ano a previsão é de que mais de 30.000 pessoas sejam atendidas pelos projetos do Setor.
Também há um Túnel de Sensibilização permanente no DMLU (na Av. Azenha, 631) que pode ser visitado de manhã e de tarde mediante agendamento. Ao final deste Túnel, chega-se a uma pequena biblioteca com sala de estudo, um pequeno museu do lixo e fotos históricas dos primeiros anos de funcionamento do Departamento. “Poucos sabem, mas Porto Alegre tem um projeto de educação ambiental pioneiro no mundo, criado em 1850. Era algo muito simples, com avisos que proibiam que a população jogasse cascas de frutas e lixo nas ruas com cobrança de multa inclusive,” comenta Gisane.
(Adriana Agüero, Ambiente JÁ, 13/09/2007)