No dia 2 de setembro, o Papa Bento XVI atraiu mais de 500 mil fiéis na Itália, em sua maioria jovens, para falar de meio ambiente e aconselhar a humanidade a se harmonizar com o planeta. No final da homilia, orientou os fiéis a adquirirem o hábito da reciclagem do lixo que é produzido.
O pedido do Papa já é uma realidade no Brasil. Aqui a Arquidiocese prepara para o próximo dia 29 de setembro, no Pátio do Colégio, em São Paulo, um grande evento sobre o tema. O encontro Ecologia e Sustentabilidade quer estabelecer os caminhos para enfrentar os desafios ambientais e fixar metas para a ação ambiental da Igreja em São Paulo.
Não é de hoje que a Igreja demonstra preocupação com os desafios ambientais do nosso cotidiano. Mas, agora, tende a definir posições mais claras para questões como o lixo. A Pastoral da Ecologia, coordenada por Dom Pedro Luis Stringhini, Presidente do Conselho Episcopal que articula as Pastorais Sociais da CNBB, estará à frente das discussões. O encontro está sendo preparado pela Coordenação da Campanha da Fraternidade da Região Sul 1. A questão do lixo terá maior destaque em razão da ameaça de ampliação dos aterros São João (zona Leste paulistana) e Bandeirantes (zona Oeste). Ambos atingiram seu limite máximo de operação e representam a ameaça de um apagão do lixo em São Paulo. Só a capital paulista gera 14 mil toneladas de lixo por dia.
Um acidente no aterro São João (13/08), a partir da extração de gás, provocou o desabamento de milhões de toneladas de lixo (o equivalente a um prédio de 40 andares, com 500 mil metros de diâmetro) e acendeu a luz vermelha para o risco à saúde pública, caso a Prefeitura continue empilhando lixo naquela área, que há muito tempo está contaminada.
A situação no Bandeirantes não é diferente. Lá, uma empresa extrai gás metano para obter lucros no mercado internacional de créditos de carbono, a partir da exploração de uma grande área contaminada. E mais: na contramão da história, existe entre as autoridades municipais e as empresas que operam nesses aterros a tentativa de ampliação dos depósitos. A solução para o problema, que se agrava a cada dia, está sendo "empurrada com a barriga".
Em 2004, a partir da Campanha da Fraternidade que teve como lema "Água, fonte de vida", foi criada, com o apoio da CNBB, a Defensoria da Água (um braço do Instituto para Defesa da Vida). Desde então, a Defensoria vem denunciando a existência de mais de 20 mil áreas contaminadas no país e de mais de 20 milhões de pessoas - direta ou indiretamente - afetadas.
O quadro do lixo é tão caótico que lembra, de imediato, a crise aérea que se agravou a partir do choque e queda do Boeing da GOL (154 mortos) e culminou com a explosão do Airbus da TAM em Congonhas (199 mortos) - guardadas as condições chocantes em que os acidentes ocorreram. No caso do lixo, o número de mortes é muito maior porque elas ocorrem lentamente e a maioria é de câncer provocado por metais pesados. Isso, obviamente, não vira manchete nos jornais.
Uma solução veio da iniciativa do deputado estadual Sebastião Almeida (PT-SP), com seu projeto contras as sacos plásticos, aprovado na Assembléia. O projeto, que reduziria a presença de plástico nos lixões, foi vetado pelo governador José Serra, sem a apresentação de outra alternativa à proibição no comércio de sacolinhas plásticas não oxi-biodegradáveis. A ação da Arquidiocese, que apresentará uma política de base se prolongando até maio de 2008 em encontros mensais, certamente se ampliará para outras denominações religiosas que praticam o ecumerismo e será um ponto determinante no início do debate dessa questão nas próximas eleições municipais de São Paulo.
(Por Leonardo Aguiar Morelli*,
Envolverde, 10/09/2007)
(*) Leonardo Aguiar Morelli é secretário-geral do Instituto para Defesa da Vida, criado para articular ações concretas da Campanha da Fraternidade de 2008.
E-mail: aguiarmorelli@hotmail.com
Site: http://www.defensoriadaagua.org.br