Isaías Viana da Silva, de 44 anos, "marronzinho" (agente de trânsito fardado) em São Paulo da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) há 17, vê a poluição da cidade do alto das pontes e no rosto, nas roupas, quando chega em casa. "Pega em tudo", como ele afirma. Ele foi um dos 50 fiscais da CET que participaram de pesquisa do Incor, divulgada no ano passado e considerada inovadora por "isolar" os efeitos da poluição sobre o organismo, eliminando variáveis de confusão, como o cigarro e o colesterol.
Apesar de Silva estar bem, ainda trabalhando na marginal do Pinheiros, os resultados mostram um quadro preocupante: os trabalhadores tiveram aumento da pressão arterial. "À noite, caía menos do que deveria. Havia como um gatilho que mantinha a pressão alta" - diz Ubiratan de Paula Santos, médico-assistente de Pneumologia do Incor e autor do estudo.
Os marronzinhos tinham também freqüência cardíaca mais alta, fator de risco para infartos do miocárdio e derrame, e substâncias inflamatórias no organismo que "engrossam" as paredes dos vasos sanguíneos. Além disso, seus corações apresentaram menor capacidade de se adaptar à aceleração causada por um momento de estresse, por exemplo. Segundo Santos, é como se o coração estivesse "engessado".
A pesquisa continuará agora com 120 marronzinhos, e vai verificar também alterações genéticas causadas pela poluição. As crianças estão entre as principais vítimas dos efeitos da poluição, potencializados pela baixa umidade do ar. Quando a noite chega, a preocupação das mães aumenta, os ataques de tosse e a sensação de mal-estar são mais freqüentes.
Por causa do clima na cidade, as consultas em agosto e setembro no hospital estão acima da média dos últimos dez anos. Em anos normais, cerca de cinco mil consultas são feitas. Em meses mais secos, como abril, maio e junho, o total alcança sete mil. Setembro, que costuma ser um mês com menos movimento, deve terminar com oito mil atendimentos.
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O Povo, 15/09/2007)