Entre as 193 cidades monitoradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), São Paulo é a sexta mais poluída, segundo um ranking de fins de 2005. O primeiro posto é ocupado pela Cidade do México, que fica numa região onde a geografia dificulta a dispersão de poluentes e causa 17 mortes por dia. Antes da capital paulista, vêm Pequim (China), Cairo (Egito), Jacarta (Indonésia) e Los Angeles (EUA). Na outra ponta do ranking, Calgary (Canadá), Honolulu (Havaí) e Helsinque (Finlândia) apresentam os melhores índices de qualidade do ar.
De acordo com a OMS, Pequim é o caso mais preocupante de todos. Justamente porque é a única metrópole na qual a concentração de poluentes ainda está aumentando consideravelmente - numa escala nunca antes vista, aliás. Especialistas da entidade já avisam que mesmo os espectadores das Olimpíadas de 2008, que ficarão apenas um mês na cidade, poderão ter graves problemas de saúde em virtude da poluição atmosférica. Ao contrário de São Paulo, em Pequim mais de 50 grandes indústrias contribuem para a má qualidade do ar.
"São Paulo chama a atenção porque é uma das poucas metrópoles em que os carros causam quase toda a poluição, cerca de 92%, e não a indústria, como em outras cidades do mundo", diz a professora de Climatologia da USP, Adalgisa Fornaro. "Um dos grandes problemas aqui é que ainda temos poucas informações sobre a composição da poluição. É difícil fazer projeções e análises corretas sem saber direito o que respiramos."
A professora cita como exemplo a pesquisa que ela está conduzindo com outros especialistas da USP, para ser enviada à Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb). O objetivo é ajudar a prever a qualidade do ar, identificar as melhores políticas públicas de redução de poluentes na cidade e auxiliar no planejamento da rede de estações de monitoramento da própria Cetesb.
O primeiro resultado? "Respiramos um ar muito ruim, ponto", diz a professora Maria de Fátima Andrade, coordenadora do estudo. Durante nove dias, os pesquisadores analisaram o ar dos Túneis Jânio Quadros (na Avenida Juscelino Kubitschek, zona sul) e Maria Maluf (Avenida Presidente Tancredo Neves, também na zona sul). Cerca de 20% dos compostos jogados no ar pelos carros, motos e caminhões podem ser considerados cancerígenos. "Nunca tínhamos analisado essas substâncias no ar, pois as pesquisas neste setor são muito novas", diz Adalgisa. "Tudo isso acaba interferindo no ecossistema, nos ciclos geoquímicos e na nossa própria saúde."
No Instituto do Coração, de cada cem consultas no pronto-socorro 12 são atribuídas à poluição do ar. Segundo estudo do professor Paulo Saldiva, chefe do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, que há mais de 30 anos analisa o impacto da poluição na saúde, nove pessoas morrem diariamente por causa da poluição.
"Dados não faltam para percebermos a necessidade de novas políticas e de novas tecnologias para diminuir a poluição atmosférica", diz a Adalgiza, que também estuda os efeitos dos compostos químicos emitidos pelos carros na chuva, na vegetação e no corpo humano. "Quanto mais descobrimos, mais ficamos assustados e mais teremos de correr para cobrir o prejuízo."
(AE/
Gazeta do Sul, 15/09/2007)