O gelo marinho no oceano Ártico recuou nesta semana para sua menor extensão já registrada, abrindo pela primeira vez a mítica passagem noroeste entre o Atlântico e o Pacífico. A abertura dessa rota marítima, que encurta a distância entre a Europa e a Ásia, era um efeito previsto do aquecimento global, causado pelas emissões humanas de gás carbônico. Mas ninguém esperava que ela fosse acontecer tão cedo.
O fenômeno, registrado em setembro por um mosaico de imagens do satélite Envisat, da ESA (Agência Espacial Européia), aumenta a preocupação dos cientistas com a velocidade do aquecimento global.
As fotos do satélite mostram toda a via pelo norte do Canadá e do Alasca livre de gelo (faixa amarela). A passagem nordeste, pela Sibéria, é a única que continua parcialmente bloqueada pelo gelo (faixa azul).
"Nós vimos a área coberta de gelo cair para cerca de 3 milhões de quilômetros quadrados, o que dá 1 milhão de quilômetros quadrados a menos que os mínimos anteriores de 2005 e 2006", disse Leif Pedersen, do Centro Espacial Nacional Dinamarquês em um comunicado da ESA. "Tem havido uma redução de cerca de 100 mil quilômetros quadrados por ano nos últimos dez anos, então uma queda de 1 milhão de quilômetros quadrados em apenas um ano é algo extremo."
Todos os verões setentrionais, parte do gelo marinho que cobre o Ártico derrete naturalmente, recongelando a partir do outono. Nas últimas décadas, a porção derretida tem sido cada vez maior, e a porção que recongela, cada vez menor. O IPCC, o painel de climatologistas das Nações Unidas, estima que o Ártico pode estar completamente sem gelo no verão a a partir de 2070.
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Da Folha de S.Paulo, 15/09/2007)