Apesar de ausência de temperaturas muito baixas ou grande amplitudes térmicas, Salvador está entre as cidades brasileiras com maior incidência de doenças respiratórias. Entre as crianças com idade entre 6 e 7 anos, 40% são portadoras de rinite alérgica. O município ainda não foi alvo de nenhum estudo epidemiológico para apontar quais as razões de tantos casos, mas especialistas não hesitam em apontar a poluição ambiental e residencial como principais causas do problema.
“Existem estudos feitos fora do Brasil e em outras cidades brasileiras que comprovam a relação entre poluição e crises alérgicas. Pela nossa experiência prática, fica claro que aqui o problema é o mesmo”, afirmou o pneumologista Guilhardo Fontes Ribeiro, presidente do VII Congresso de Pneumologia da Bahia. O evento, que está sendo realizado em Salvador, no Bahia Othon Palace, discute hoje a relação entre a poluição atmosférica e a saúde humana.
Uma das palestrantes, a bioquímica baiana Nelzair Vianna aponta as implicações da grande presença de partículas em suspensão no ar como elementos desencadeadores de processos alérgicos. Isto porque, além de grãos de areia, a poeira urbana é formada por inúmeras substâncias, como metais pesados, sulfatos, compostos orgânicos e endotoxinas, que pelo reduzido tamanho podem ser inaladas e são facilmente absorvidas pelo organismo.
A situação pode ficar ainda pior quando a poluição está dentro de ambientes fechados, como escritórios, shopping centers ou residências. “Como Salvador é uma cidade com uma umidade muito alta, os fungos e bactérias se proliferam com muita facilidade”, afirma Nelzair. A poluição em ambientes internos, ainda pouco estudada no Brasil, é o tema da palestra de outro convidado do congresso, o médico americano Thomas Yacobellis, presidente da Indoor Air Quality Association, entidade que pesquisa a qualidade do ar.
A poluição em ambientes internos ocorre principalmente naqueles onde a ventilação é mecânica. São os prédios selados por vidros e concreto, onde o ar respirado passar por um sistema de refrigeração. Nestes locais, a limpeza dos filtros deve ser muito cuidadosa, sob o risco de prejudicar a saúde dos freqüentadores. O risco é tão grande que até o Código de Defesa do Consumidor exige que lojas e shoppings garantam uma boa qualidade do ar para seus clientes.
Riscos - Mas o perigo também está longe dos ambientes refrigerados e suntuosos de alguns centros de lojas e prédios envidraçados. Nas residências mais simples, o aglomerado de pessoas em minúsculos espaços, a falta de ventilação adequada e até fogões à lenha ajudam a aumentar os casos de alergia. “Em bairros pobres da nossa cidade, ainda existe muita gente cozinhado em fogões à lenha, dentro de casa. Esta fumaça causa sérios danos à saúde das crianças e adultos”, revela Ribeiro.
Se a corrida em volta do Dique do Tororó pode representar uma prática saudável, a localização da pista de cooper esconde seus riscos. Como está muito próxima ao fluxo de veículos, os gases tóxicos provenientes da queima do combustível são inalados durante o exercício. “É algo semelhante ao que já foi comprovado no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Lá existe uma pista perto da rua e outra interna. Obviamente, quem andou mais perto dos carros inalou mais monóxido de carbono, ficando mais suscetível a crises alérgicas e doenças respiratórias”, conclui Nelzair.
(Por Jony Torres,
Correio da Bahia, 15/09/2007)