A pesquisa de insetos que transmitem ao homem várias espécies de protozoários do gênero Leishmania, que por sua vez causam uma doença denominada leishmaniose, levou o técnico Getúlio Dornelles Souza, do Laboratório Central do Estado-IPB/Lacen, administrado pela Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde (Fepps), a coletar e descobrir uma espécie nova de flebotomíneo no município de Caçapava do Sul. A espécie foi descrita em conjunto com os pesquisadores do Centro de Pesquisas René Rachou/Fiocruz/MG, José Dilermando Andrade Filho e Alda Lima Falcão, e denominada de Evandromyia gaucha, em homenagem ao povo do Rio Grande do Sul. O trabalho científico na íntegra pode ser lido no www.memorias.ioc.fiocruz.br/futureissues.html.
Os flebotomíneos são insetos dípteros, pertencentes à família Psychodidae, cujas fêmeas se alimentam de sangue e transmitem ao homem várias enfermidades, através da picada. De acordo com Organização Mundial da Saúde, a leishmaniose é uma doença negligenciada e compõe a segunda protozoose mais importante do Brasil. Apresenta três formas clínicas: cutânea ou tegumentar, lesão ulcerada na pele, que pode comprometer a mucosa da boca, nariz e faringe; visceral, lesão que afeta principalmente o baço e o fígado; e a difusa (alérgica), forma mais severa, pois as lesões se espalham por quase todo o copo dos indivíduos imunologicamente deprimidos, apresentando cura em apenas 30% dos casos. Também na leishmaniose visceral, se o paciente não for tratado a tempo, a doença pode levá-lo ao óbito.
No Rio Grande do Sul, os técnicos Getúlio Dornelles Souza e Sandra Rangel, colaboradores do Programa Nacional de Prevenção e Controle de Leishmanioses, trabalham na Seção de Reservatórios e Vetores (Núcleo Estadual de Entomologia), do IPB/Lacen, vinculado à Secretaria Estadual da Saúde. Eles são os responsáveis pela identificação e pesquisa de flebotomíneos do Estado.
A leishmaniose tegumentar americana (LTA) é uma doença infecciosa endêmica, de alta prevalência no Brasil, causada principalmente por três agentes etiológicos: Leishmania (Viannia) braziliensis, Leishmania (Viannia) guyanensis e a Leishmania (Leishmania) amazonensis.
Até o ano de 1999, não havia sido registrado nenhum caso autóctone de leishmaniose no Rio Grande do Sul, isto é, nenhum gaúcho teria sido infectado com Leishmania sp, pela picada de flebotomíneos infectados do Estado. Tal fato poderia ser explicado nela inexistência de casos humanos ou pela subnotificação, uma vez que as lesões das LTA podem curar espontaneamente. A partir de 2000, casos humanos autóctones de LTA foram notificados, principalmente, em duas áreas do Rio Grande do Sul: na região metropolitana de Porto Alegre e Missões.
Devido à gravidade da doença, ao pouco conhecimento das espécies vetoras e dos agentes etiológicos, à grande quantidade de casos confirmados no Brasil, vários pesquisadores se comprometeram com o estudo de flebotomíneos em áreas endêmicas e em locais sem conhecimento da fauna desses insetos.
(Ascom Governo do Estado do RS, 13/09/2007)