Depois de reuniões e promessas de que a área de pesca de Ubu e Parati não sofreria impactos com a dragagem para ampliação das atividades da Samarco Mineração, no sul do Estado, a empresa mudou de idéia, e a atividade na região sofrerá graves impactos. A empresa havia acordado em realizar a dragagem a uma distância de 7 milhas da praia, mas resolveu fazer a 2,5 milhas, como denunciam os pescadores.
"Na última reunião, tiveram a coragem de afirmar que tudo que seria feito não causaria danos aos pescadores, mesmo com a mudança do local de dragagem. Que apenas não fariam a dragagem no período de desova de tartarugas e no verão, por causa dos turistas. E nós?", indagou o presidente da Associação de Pesca de Ubu e Parai, Adilson Ramos Neves.
Segundo ele, todo o material da dragagem será despejado na área de pesca utilizada por 200 pescadores, destruindo a região e acabando com os peixes. Os pescadores estão desolados e muito preocupados. Ressaltam que já abriram mão de muitas áreas de trabalho para a Samarco e Petrobras, e o pouco que resta, será mais uma vez destruído.
A reunião foi realizada na presença de representantes da Samarco Mineração S/A, Associação de Pescadores de Ubu, Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), Secretaria de Meio Ambiente de Anchieta, Secretaria de Pesca de Anchieta e Colônica de Pescadores de Anchieta. Mas segundo os pescadores, a comunidade e sua sobrevivência têm sido ignoradas.
"Como sempre eles não entendem, ou fingem não entender, a linguagem dos pescadores. Nós só queremos que preservem um pouco nossa cultura e façam alguma coisa para que os pescadores possam sobreviver. Nada mais que isso, pois dentro de 30 anos, só obtivemos prejuízos", afirmam os pescadores, em documento enviado pela Associação dos Pescadores de Ubu e Parati.
A dragagem, segundo eles, será feita em 1.200.000 metros cúbicos, que será divido em 3 partes, sendo a primeira de 377.000 metros cúbicos. Eles ressaltam que os prejuízos para a natureza com essa escavação no fundo do mar, são incalculáveis.
"É por isso que cada dia que passa sofremos mais e mais com os impactos causados por eles. Pedimos em nome de todos os moradores e pescadores das comunidades Ubu e Parati, que as autoridades competentes tomem conhecimento de tudo que as empresas e órgãos ambientais vêem fazendo, e da maneira que nos tratam. E que possam tomar como suas estas causas que tanto nos afligem, pois são muitos os problemas que estamos encontrando", diz o manifesto.
Os pescadores apontam que a destruição da região assusta a comunidade. Eles cobram alternativas e iniciativas que minimizem o sofrimento da população. Afirmam também, que o andamento dos grandes projetos, representa o fim da pesca.
A previsão dos ambientalistas é que se nada for feito, a região de Anchieta conhecerá as mesmas situações ambientais e sociais ocorridas na Grande Vitória, com o conglomerado de usinas de pellets de Tubarão e o complexo siderúrgico de Tubarão.
Em Anchieta, a Petrobras tem planos para construir um porto a 500 metros, ao sul do terminal da Samarco Minerações. O processo de licenciamento ambiental já está em andamento e o empreendimento prevê a construção de um porto em uma área de 45 mil metros quadrados e mais 40 mil metros de pré-embarque. O projeto faz parte do novo pólo industrial em Anchieta. O porto será utilizado no apoio às atividades de exploração e produção de petróleo no litoral capixaba e está previsto para entrar em operação em 2010. A intenção da empresa é construir três berços que permitirão 450 atracações por mês.
Os pescadores alertam há meses que as mobilizações para a construção do porto da Petrobras começaram muito antes da divulgação do pólo industrial na região, devido aos prejuízos à comunidade pesqueira, sem providências. Aos moradores da região de Ubu que convivem com o estrago já causado pela Samarco, o sentimento é de abandono.
(Por Flávia Bernardes,
Século Diário, 14/09/2007)