A morte do menino paraguaio Silvino Talavera Villasboa, de 11 anos, ocorrida em 7 de janeiro de 2003, por conta de uma intoxicação por agrotóxicos aplicados por empresários de soja é um caso emblemático da situação da agricultura no Paraguai. Somente em 2004, mais de 400 mortes foram ocasionadas pelo descontrole do uso agrotóxicos nas zonas rurais do Paraguai, segundo denunciou a Comissão de Diretos Humanos do Paraguai (CODEHUPY).
Em informe, a entidade se solidariza com a denúncia apresentada pela Pastoral Social Católica à Comissão Interamericana pelos Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (CIDH da OEA), na qual sustenta que mais de 20 milhões de litros agroquímicos são despejados anualmente sobre o território paraguaio, provocando doenças, cegueiras, má formações em bebês, a morte de camponeses e indígenas e agredindo a flora, a fauna e o meio ambiente.
A Codehupy afirma ainda seu repúdio à decisão dos deputados de rejeitar a Lei de Praguicidas, Agrotóxicos, Fertilizantes e Emendas, apresentada pela Plenária Popular Permanente, com o Centro de Estudos e Investigação de Direitos e Reforma Agrária (Ceidra/ UCA). A organização solicita ao governo paraguaio que "se ocupe de preservar a vida do povo e expulse as empresas Monsanto e Cargill pela sua responsabilidade nas mortes por intoxicação".
Análises laboratoriais como a realizada em 2003, pelo Ministério da Saúde, em moradores do distrito de San Pedro Del Paraná, departamento de Itapúa, comprovam que a grande quantidade de agrotóxico utilizada nas lavouras está afetando gravemente a população. O resultado da análise comprovou a existência de carbamatos e glifosatos na urina de moradores que deram entrada no Hospital Regional de Encarnación, além de detectar as substâncias na água utilizada pelos moradores.
O problema já atinge pelo menos 14 dos 17 departamentos do Paraguai. Entre os anos de 1999 e 2003, foram contabilizadas 250 mortes anuais ocasionadas por uso de agrotóxico, segundo dados da Organização de Direitos Humanos para o Direito à Alimentação (FIAN Internacional) e da Vía Campesina. De acordo com organizações sociais, o processo de contaminação teria começado em 1997, com o início da plantação de soja transgênica.
Já em 1998 teria sido registrado o caso de envenenamento por agroquímicos mais grave do país, no qual cerca de 700 toneladas de sementes vencidas de algodão tratadas com esses produtos foram despejadas em um terreno de 2,5 hectares, causando a morte de um morador e afetando outras 600 pessoas.
Hoje, com o Paraguai ocupando o terceiro lugar nas exportações mundiais e o quarto na produção de soja, pelo menos 80% da produção que se cultiva no país é transgênica. Durante 2005, de acordo com a Câmara Paraguaia de Exportadores de Cereais e Oleaginosas (Capeco), foram cultivados 2 milhões de hectares de soja da qual pouco menos de 90% é transgênica. Este dado, conforme análise da organização Altervida, revela que no país estão sendo utilizados oito tipos de químicos, entre os quais se encontram vários de alta toxicidade.
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Envolverde/Adital, 13/09/2007)