O temor de desmatamento na Amazônia para plantio de cana é visto por analistas e lideranças políticas como empecilho à proposta brasileira de expansão do comércio mundial de etanol
A produção de cana-de-açúcar na Amazônia vai crescer, mas não há risco de desmatamento da floresta para dar lugar aos canaviais, garantiu ontem o chefe-geral da unidade de monitoramento por satélite da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Evaristo Eduardo de Miranda, que participou de audiência pública na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado.
Miranda disse que a cana ocupará áreas que atualmente são destinadas às pastagens. O temor de desmatamento na Amazônia para plantio de cana é visto por analistas e lideranças políticas como empecilho à proposta brasileira de expansão do comércio mundial de etanol. “Não haverá desmatamento”, enfatizou. De acordo com ele, a produção de cana na Amazônia soma cerca de 20 milhões de toneladas.
Miranda disse que há usinas instaladas em quase todos os Estados da região, com exceção do Amapá. Segundo ele, a troca dos pastos por cana na Amazônia é possível devido ao uso de novas tecnologias desenvolvidas exclusivamente para a região.
No caso das pastagens, o uso de novos tipos de capim pode elevar o rendimento da pecuária de corte. Na média, o rebanho na região cresce de oito a dez vezes mais do que no resto do país.
Nos últimos dez anos, o rebanho nos Estados que não integram a Amazônia cresceu 0,7%. No Pará, o crescimento foi de 8%. No Acre 13% e em Rondônia, 16%, segundo levantamento da Embrapa.
“O número de bois na Amazônia crescerá cada vez mais, mas não haverá aumento da área desmatada”, comentou.
De acordo com Miranda, o desenvolvimento tecnológico da pecuária de corte vai permitir o crescimento do rebanho sem aumento da área de pastagens. Em outras regiões, também houve a substituição de outras culturas pela cana.
Monitoramento por satélite feito pela Embrapa entre os anos de 1988 e 2003 mostra que a cana ocupou cerca de 5.000 quilômetros quadrados que eram ocupados originalmente com pastos no Estado de São Paulo.
Uma área de 200 quilômetros quadrados ocupada com café foi “roubada” pela cana no período. A área monitorada foi de 52 mil quilômetros quadrados, o que representa um quarto área total do Estado. “A área plantada com cana cresceu 50% entre 1988 e 2003”, afirmou.
Estudo posterior feito em parceria com a Abag (Associação Brasileira de Agribusiness) mostra que a troca de outras culturas pela cana resultou em aumento de renda e da arrecadação de impostos. No entanto, houve redução no número de empregos diretos.
(
Jornal do Commercio, 12/09/2007)