Ativistas do Movimento Greenpeace fizeram nesta quinta-feira (13/09) um bloqueio humano na entrada da sede da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), em Botafogo, na zona sul da cidade. O protesto foi para marcar os 20 anos do acidente radiológico ocorrido com o Césio-137, ocorrido no dia 13 de setembro de 1987 em Goiânia, e prestar solidariedade às vítimas.
Segundo a porta-voz do Greenpeace, Rebeca Lerer, nem todos os envolvidos no acidente foram indenizados. "A Associação das Vítimas do Césio-137 estima que mais de 6 mil pessoas foram contaminadas quando expostas de forma direta e indireta à
radiação. E apenas 120 vítimas foram reconhecidas até hoje."
Ela disse que existe um descaso muito grande do poder público brasileiro em relação a essas pessoas, que não recebem amparo médico, nem psicológico, e que vão sofrer com o problema nessa e nas futuras gerações.
A manifestação do Greenpeace, que envolveu cerca de 20 ativistas, durou mais de uma hora e provocou engarrafamento no tráfego. Enrolados em uma corrente presa aos portões de ferro na entrada do prédio da Cnen, os ativistas protestaram também contra a insegurança nuclear e a política nacional para o setor.
A Polícia Militar interveio, mas o grupo só começou a liberar o acesso ao prédio depois que a diretoria da Cnen aceitou receber um documento do movimento contendo as três principais reivindicações: total indenização às vítimas do Césio-137; não-construção da Usina Nuclear Angra 3 e fim do Programa Nuclear Brasileiro.
Rebeca Lerer afirmou que o grupo vai continuar protestando contra a política nuclear. "Nesse momento em que o governo discute a retomada da construção de Angra 3, essa é a nossa resposta. Nós nos opomos a essa iniciativa e vamos continuar trabalhando para que o Brasil não se aventure novamente na área nuclear", disse ela.
Especialistas consideram o acidente com o Césio-137 o maior acidente radioativo ocorrido no Brasil e o maior do mundo já registrado fora de uma usina nuclear. Centenas de pessoas foram contaminadas acidentalmente através de radiações emitidas por uma cápsula que continha a substância.
O material foi encontrado por dois catadores de lixo nas antigas instalações do Instituto Goiano de Radioterapia, mais conhecido como Santa Casa de Misericórdia, localizado no centro da capital goiana. Eles transportaram a cápsula e tentaram desmontar o equipamento para vender as partes de metal e chumbo. Após um mês, quatro pessoas morreram.
(Por Norma Nery,
Agência Brasil, 13/09/2007)