Surpreende a falta de resposta dos governos das nações industrializadas, frente a atual emergência ambiental mundial. O informe apresentado no início do ano pelo Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas, confima que a mudança do clima é inegável, e seus efeitos negativos continuarão aumentando, tanto de freqüência como de gravidade, ao longo deste século.
O setor-chave do problema é o energético, pois produz dois terços de todos os gases do efeito estufa liberados no planeta. E se prevê um incremento de 60% no consumo de energia para 2030. O panorama é dramático.
No fim do ano se realizará em Bali, Indonésia, a Cúpula de países da Convenção de Mudanças Climáticas. Espera-se que nela se aprovem resoluções comprometidas com o futuro. Recordemos os fracassos colhidos até agora em relação ao Protocolo de Kioto.
Enquanto isso, acontecem as reuniões preparatórias, e acaba de se finalizar a de Viena onde, durante cinco dias, mil representantes de mais de 150 governos, do setor empresarial, organizações não governamentais e instituições de investigação, tomaram parte de uma rodada de negociações, com a finalidade de assentar as bases para a conferência de Bali: que fazer depois de 2012, quando termina a primeira fase das metas do Protocolo de Kioto.
Foram constituídos em Viena dois grupos de trabalho.
1) Um grupo de trabalho especial, onde se discutiu e negociou sobre futuros cumprimentos de compromissos assumidos com o protocolo. Foram obtidos alguns avanços, como tomar por base o último informe técnico do IPCC, que sugere limitar o amumento futuro da temperatura a 2º C, o que se conseguirá se for alcançada uma diminuição de cerca de 50% das emissões dos países industrializados para 2050.
Recém começam as discussões, existindo um prazo estabelecido em 2009 para resolvê-las. Mas pelo que vem ocorrendo não é muito tempo, sem dúvida, tão dramática é a situação mundial a respeito dos efeitos do aquecimento global, que não deixa de surpreender a falta de adoção de medidas contundentes.
É muito grave o que está em jogo para se admitir especulações setoriais e defesa de interesses corporativos.
2) O outro grupo de negociações se denominou “Diálogo sobre a cooperação a largo prazo para fazer frente à mudança climática”. Não é nem mais nem menos que uma inteligente tentativa de negociar maiores e melhores compromissos, entre países industrializados participantes do Protocolo de Kioto, nações industrializadas que não o integram (Estados Unidos e Austrália) e também países em desenvolvimento com economias muito fortes como a China, Brasil, México e África do Sul.
Como é de se esperar, o tema central sempre é o econômico. As negociações se centraram nos custos de mitigação e de adaptação às mudanças climáticas. Mas também se discutiu sobre um novo esquema de fluxos de investimento e financiamento necessários para implementar as medidas a tomar. O mais relevante acordado em Viena – visando Bali – é que os países industrializados se esforçarão para reduzir suas emissões entre 25 e 430% do que estavam emitindo em 1990 antes de 2020.
Pequenos resultados se considerarmos a urgência ambiental que vivemos e o enorme descumprimento dos compromissos assumidos pelas nações mais poluentes.
(Por Hernán Sorhuet Gelós*, El Pais /
EcoAgencia, 11/09/2007)
*O autor é articulista sobre meio ambiente do jornal El Pais, de Montevideo.
Tradução de Ulisses A.Nenê