Porto Alegre, RS - O movimento contrário à pressão das grandes empresas para a construção de gigantescas usinas hidrelétricas vem acontecendo em palestras como a realizada terça-feira (11/09) à noite, no auditório da Livraria Cultura, na capital gaúcha. A Fundação Gaia – Legado Lutzenberger reuniu dezenas de pessoas com o professor do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da Ufrgs, biólogo e doutor em Ecologia e Recursos Naturais pela UFSCar, Paulo Brack.
“A biodiversidade frente aos planos das hidrelétricas na Bacia do Rio Uruguai - O caso da UHE Pai Querê” foi o tema ilustrado com gráficos e tabelas que desmentem informações do Estudo de Impacto Ambiental e do Relatório de Impacto do Meio Ambiente (EIA-RIMA) apresentado pela empresa que pretende construir a hidrelétrica local. Gráficos e tabelas mostram a vida que existe em Pai Querê, espécies endêmicas da fauna e da flora, informação que foi subtraída do documento.
A área de pai Querê está localizada no rio Pelotas - que dá origem à bacia hidrográfica do rio Uruguai - entre os municípios de Bom Jesus e Vacaria, no Rio Grande do Sul, e São Joaquim e Bom Jardim da Serra, em Santa Catarina. A energia a ser gerada deverá ser de 290 MW, com a inundação de 3.945 hectares de florestas de araucárias.
Com fotos e mapas Paulo Brack mostrou aos participantes as possibilidades de se promover o turismo ecológico e de garantir a sobrevivência de espécies de orquídeas, de peixes, de aves, dependentes daquele ambiente natural. Como se tudo isso não bastasse, trata-se de uma área de reserva-núcleo da biosfera da Mata Atlântica.
Passados três anos da apresentação do EIA-RIMA a licença ambiental ainda não foi concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). “São mais de seis mil hectares, sendo que um terço é de florestas com araucárias centenárias que ficarão embaixo d’água. O que está acontecendo no rio Uruguai é inconcebível, é uma visão que desconsidera a Constituição, os princípios de sustentabilidade,” desabafou.
Brack criticou a lógica de produção de energia como commoditie para exportação, assim como ocorre com o aço, a celulose, a soja. “No Brasil e em outros países em desenvolvimento, onde isto acontece, fica o prejuízo sócio-ambiental. O sistema de concentração de energia é criticado há anos, o próprio Lutzenberger já o fazia há décadas, e agora os governantes querem retomar este paradigma,” completou.
Para contornar o aumento da necessidade de consumo anual de energia elétrica, equivalente a 5% ao ano conforme projeção do Ministério de Minas e Energia, dentre as alternativas sustentáveis está a construção de hidrelétricas de pequeno porte, ou seja, de menor impacto ambiental; e o consumo racional de energia, por exemplo, com a mudança de hábitos individuais.
(Por Eliege Fante,
EcoAgência, 12/09/2007)