O manejo florestal orientado e planejado na Amazônia é uma alternativa positiva para a atividade madeireira. Com o sistema, o volume total de uma floresta pode ser recuperado em dez anos. “Na exploração predatória, sem planejamento, a recuperação do volume total pode levar entre 35 e 40 anos”, calcula o professor Edson Vidal, do Departamento de Ciências Florestais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP de Piracicaba. Ao longo de dez anos, o pesquisador acompanhou os resultados da implantação de um modelo de gestão da extração de madeira naquela região.
Vidal explica que o modelo, originalmente desenvolvido para florestas da Indonésia, foi adaptado para a floresta brasileira, mais especificamente a Amazônia oriental. “Sabemos que a região apresenta limitações naturais para atividades agropecuárias devido a fatores climáticos como as chuvas, que atingem cerca de 45% daquele território”, lembra. Daí a necessidade de sugerir ações mais precisas de manejo florestal visando principalmente a conservação e recuperação de espécies.
O SIMFLORA, como ficou conhecido no Brasil (o nome original é SYMFOR) é uma estrutura de modelagem matemática que combina modelo de manejo e atividades. No SIMFLORA, os cortes foram programados para árvores com diâmetro superior a 50 cm silviculturais específicas (colheita, desbaste, plantio, etc). O modelo foi devidamente calibrado para as florestas do município de Paragominas, na Amazônia. Lá, os pesquisadores avaliaram uma área de 200 hectares. “A área de aplicação da modelagem está dentro de uma propriedade particular, de cerca de 6.500 hectares, que tem mais de 50% de sua atividade dedicada à exploração madeireira”, conta Vidal. “Dividimos o local em duas áreas, com 100 hectares cada uma. Numa delas aplicamos a modelagem com o manejo devidamente orientado. No outra, foi usado o manejo predatório/convencional”, conta.
Resultados
As observações com o SIMFLORA tiveram início em 1993. Em 2003, os pesquisadores completaram o ciclo de observações de dez anos, e os resultados foram animadores. Vidal conta que nos 100 hectares em que foi aplicado o manejo devidamente orientado já foi recuperado o volume total da floresta. “As espécies comerciais se recuperarão em 30 a 40 anos”, ressalta o pesquisador. Ao contrário, nos 100 hectares em que foi usada a exploração predatória, serão necessários de 35 a 40 anos para que o volume total se recupere. “Para as espécies comerciais, a recuperação total deve levar mais de 60 anos”, lamenta.
No manejo orientado, tudo é feito de acordo com a lei. Infra-estrutura envolve corte, transporte e estocagem
Na extração sem planejamento, que normalmente é feita nas florestas, não são aplicadas técnicas de corte. “Simplesmente uma equipe derruba as árvores e outra faz a retirada”, descreve Vidal. As estradas são mal planejadas e a estocagem é deficiente. “Cerca de 25% do volume cortado não é aproveitado por causa de rachaduras ou por serem simplesmente perdidas”, conta. Além do mais, a exploração predatória pode ameaçar algumas espécies.
Nas áreas em que é aplicado o manejo orientado, tudo é feito de acordo com a legislação. “Em primeiro lugar se faz uma coleta de dados e um mapeamento de todas as espécies. As informações são planilhadas e parte-se para o planejamento da infra-estrutura em estradas, corte e estocagem”, explica o pesquisador. O corte foi programado para árvores com diâmetro superior a 50 centímetros.
Segundo o professor, este é o quarto estudo do gênero na floresta amazônica. Os outros foram realizados numa região próxima a Manaus, no Jari e no Tapajós, respectivamente. “Algums informações científicas de nosso trabalho já foram, inclusive, incluídas na legislação federal”, comemora Vidal.
(Por Antonio Carlos Quinto, Agência USP, 12/09/2007)