Pelotas - Depois do ato em frente à Votorantim Celulose e Papel (VCP) na terça-feira, quando a entrada do portão principal da empresa foi barrada em protesto contra o plantio de eucalipto, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e integrantes da Via Campesina deixaram as margens da BR-116, em Capão do Leão, e acamparam em frente ao antigo frigorífico Anglo, na região do Porto (futuras instalações do campus da Universidade Federal de Pelotas).
Dos mil participantes que vieram de todo o Estado para a manifestação - cerca de 500 pessoas são moradoras em acampamentos do MST, inclusive crianças - deverão permanecer na cidade até o final de semana para promover debates sobre a reforma agrária em escolas, universidades e associações de bairros. Na manhã de ontem, representantes participaram de audiência pública na Câmara de Vereadores (veja mais nesta página). No início da próxima semana, o grupo deverá partir em marcha para outros municípios do Estado, com destino final à Fazenda Guerra, em Coqueiros do Sul.
No final da tarde de ontem, os demais manifestantes dos movimentos de Pequenos Agricultores (MPA), dos Trabalhadores Desempregados (MTD) e das Mulheres Camponesas (MMC), além de metalúrgicos, assentados e representantes de movimentos urbanos, deixaram o Município e voltaram para suas cidades de origem. O papel desses grupos nos próximos meses será abastecer a marcha com alimentos e roupas, além de divulgar o movimento e articular transporte em cada local em que o MST acampar.
ROTEIROCerca de 500 integrantes do Movimento dos Produtores Rurais Sem Terra (MST) deverão partir de Pelotas no início da próxima semana. Intercalando trechos a pé e de ônibus, o grupo deverá passar por Bagé, Caçapava do Sul, São Sepé, Santa Maria, Júlio de Castilhos, Cruz Alta, Ibirubá, Não Me Toque, Carazinho e, finalmente, Coqueiros do Sul. Não há previsão de prazo para o término da marcha.
O que pensa a ARPA Associação Rural de Pelotas (ARP) acredita na viabilidade do agrossilvicultura como sistema racional e eficiente de uso da terra. Para o presidente da APR, Elmar Hadler, mais que investimentos trazidos para o Estado, o eucalipto poderá ser utilizado para outros fins além de beneficiamento em celulose, como o desenvolvimento dos pólos madeireiros e a fabricação de móveis. “Não estamos desprezando nossas raízes nem o que já existe no Estado, mas precisamos pensar no crescimento e uso de novas tecnologias”, afirmou. “Dizer que o eucalipto transformará a região sul em um deserto verde é absurdo e sem precedente. Estamos em conjunto com entidades de toda a Metade Sul do Estado acompanhando os estudos e todos os que foram contrários ao plantio até agora foram derrubados.” Para Hadler, as manifestações dos movimentos ligados à Via Campesina e ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) podem criar conflitos e afugentar empresas e investimentos importantes ao Estado. “Viemos trabalhando para redesenvolver a região e não queremos colocar a instalação dessas empresas a perder.”
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Diário Popular, 13/09/2007)