O Movimento dos Sem-Terra (MST) invadiu o prédio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Porto Alegre no início da noite de ontem. A ocupação foi mais um ato da série de manifestações que a Via Campesina, que tem o MST como um de seus integrantes, faz desde terça-feira no Rio Grande do Sul. Outros dois grupos ligados à organização marcharam pelas ruas de Pelotas e São Luiz Gonzaga durante o dia.
A nova onda de protestos tem por objetivo contestar a expansão das plantações de eucaliptos para a indústria de celulose no Estado e pedir que a terra seja usada para a produção de alimentos. Os manifestantes também reclamam do atraso no cronograma de assentamentos do governo federal, que previa entregar lotes a 1.200 famílias e só entregou a 365 neste ano. Eles querem a desapropriação das fazendas Southall, em São Gabriel, e Coqueiros, em Coqueiros do Sul.
“Ocupamos o prédio para pressionar as negociações”, afirmou um dos coordenadores do MST no Estado, Mauro Cibulski. O grupo de cerca de 800 pessoas espalhou colchonetes pelos corredores do prédio para dormir, depois de passar o dia numa marcha de 20 quilômetros, de Eldorado do Sul a Porto Alegre, e num ato público diante do Palácio Piratini, sede do governo gaúcho. Representantes do movimento serão recebidos hoje pelo superintendente em exercício, José Rui Tagliapietra.
Na zona sul do Estado, as 700 pessoas que haviam acampado na terça-feira diante do viveiro de mudas de eucaliptos da Votorantim Celulose e Papel em Capão do Leão deixaram o local ao amanhecer, fizeram passeatas e acompanharam audiência pública sobre reforma agrária em Pelotas. Ao final do dia, o grupo montou acampamento em área pública na periferia.
No noroeste do Rio Grande do Sul, as 500 pessoas que iniciaram marcha de 250 quilômetros de Bossoroca até Coqueiros do Sul avançaram mais dez quilômetros no segundo dia de caminhada e chegaram ao município de São Luiz Gonzaga. Depois de uma passeata pela avenida principal da cidade, montaram acampamento no Parque Centenário.
Nos próximos dias as três frentes de manifestantes pretendem se encontrar na Fazenda Coqueiros. A Via Campesina defende que o governo federal desaproprie a área de sete mil hectares, que já foi invadida oito vezes, alegando interesse social.
(Por Elder Ogliari,
O Estado de S.Paulo, 13/09/2007)