O aumento da área plantada com cana-de-açúcar para a produção de etanol pode colocar em risco a segurança alimentar do País. Isso porque a plantação de cana pode substituir as culturas voltadas para a alimentação da população. Essa foi a conclusão dos participantes da audiência pública realizada nesta quarta-feira (12/09) pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, para discutir o aquecimento global, a produção de biocombustíveis e sua possível interferência na produção de alimentos.
O assessor da Via Campesina Horácio Martins alertou para a projeção de que, em 2017, a área ocupada pela cana seja de 28 milhões de hectares. Atualmente, essa área é de 6,6 milhões de hectares. Segundo Martins, a safra de 2006/2007 foi de 20 bilhões de litros de etanol, suficiente para a adição de 25% na gasolina, como determina a legislação, com sobra de 4 milhões de litros para exportação.
Horácio Martins também alertou para o perigo que a plantação em larga escala nos latifúndios representa para os pequenos produtores. "Os camponeses estão sendo pressionados pela concentração da terra e pela tentativa das grandes usinas de usar as terras camponesas - por contrato ou por arrendamento - para a produção de cana, tirando, portanto, dos camponeses, a autonomia de geração", declarou. Ele explicou que as comunidades rurais cercadas por plantações de cana-de-açúcar "não têm a menor viabilidade de produzirem e de se manterem".
Agricutura familiarO presidente da Frente Parlamentar de Segurança Alimentar, deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), afirmou que manter a agricultura familiar é fundamental para garantir alimento às populações de todas as regiões brasileiras. Por outro lado, declarou que a monocultura é prejudicial tanto para o ser humano quanto para o meio ambiente, na medida em que degrada o solo e não traz renda para os pequenos agricultores.
O deputado defendeu a adoção de uma merenda escolar regionalizada, com preferência para produtos locais. "Recebemos os enlatados que vêm pelos supermercados, produções de outros lugares, em vez valorizarmos, por exemplo, o caju lá no Piauí. No Ceará, estamos comendo soja, quando poderíamos estar alimentando nossas crianças com produtos regionais, gerando emprego e renda, protegendo o meio ambiente e dando soberania local", disse.
Fonteles afirmou, ainda, que somente com educação é possível conscientizar a população da importância do consumo regional. O deputado lembrou que o Programa Nacional da Merenda Escolar já está priorizando a compra de alimentos dos pequenos produtores - o que diminui os gastos com transporte e fomenta a renda dos municípios.
Energia eólica
Para o coordenador da Campanha de Energias Renováveis do Greenpeace Brasil, Ricardo Baitelo, o uso de biocombustíveis é importante para substituir os combustíveis fósseis, mas devem ser trocados, a médio prazo, pela energia eólica ou solar, abundante no Brasil, renovável e não-poluente.
Já o professor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UnB) Donald Sawyer disse que são necessárias políticas eficientes para o setor de produção de etanol, ao destacar as conseqüências negativas do aumento da produção para o meio ambiente. Ele explicou que a plantação de cana-de-acúçar gasta muita água. Além disso, destacou que o etanol tem como subproduto o vinhoto, líquido altamente poluente.
Sawyer ainda alertou para o impacto do desmatamento sobre os rios, principalmente no Cerrado, que, em sua opinião, não deve ser sacrificado para proteger a floresta amazônica, uma vez que os dois ecossistemas são interdependentes.
(Por Karla Alessa,
Agência Brasil, 12/09/2007)