Acidente aconteceu em 13 de setembro de 1987, no Centro de Goiânia e matou quatro pessoas.
A tragédia com o césio-137, em Goiânia, completa 20 anos nesta quinta-feira (13) e muitas vítimas ainda sofrem com doenças provocadas pelo material radioativo e, principalmente, com o preconceito provocado pela falta de informação sobre o caso.
Segundo Odesson Alves Ferreira, 52 anos, presidente da Associação das Vítimas do césio-137, a maior dificuldade vivida nesses de 20 anos é o reconhecimento dos direitos das pessoas contaminadas. "Precisamos de um centro de referência de estudo para acompanhamento das vítimas."
Ferreira, que também foi vítima do acidente, disse que o preconceito vai durar a vida toda. "A sociedade não permite que a gente consiga arrumar trabalho. É a falta de informação que provoca isso. O pior é que o longo tempo de exposição ao preconceito faz com que as vítimas não se reconheçam como pessoas comuns. É um efeito psicológico muito forte."
A dona-de-casa Lourdes das Neves, 55 anos, mãe da menina Leide, que morreu com 6 anos, em 1987, disse que procura o isolamento para enfrentar o preconceito (leia entrevista). "Perdi amigos e tive de recomeçar minha vida do zero. Desde a perda de parte de minha família até conseguir fazer novos amigos."
Conflito de estatísticas Airton Caubit, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), disse que o número exato de vítimas atingidas pelo césio-137 sempre provocou polêmica. "O número nunca bateu e, talvez, nunca vá bater. O que posso dizer é que quatro pessoas morreram em decorrência da contaminação. Esse é o número que sempre foi certo."
Caubit afirmou que os números do Cnen totalizam 249 pessoas com grau de contaminação. “Destas, 129 precisaram de isolamento. Depois, o número caiu para 120 e é este o indicador final que temos atualmente.”
Para Odesson, o número de vítimas atingidas pela contaminação com o césio-137 passa de 1,2 mil pessoas. “Apenas 129 ou 120 pessoas receberão assistência para a vida toda, pois a contaminação foi maior e por isso estão inseridas no grupo 1. Há outro estágio de contaminação, a indireta, que soma mais de 100 vítimas. Este é o grupo 2. O total da soma são pessoas que tiveram problemas com bens, imóveis e problemas financeiros por conta do acidente. Estas estão no grupo 3 e não têm apoio algum.”
Segundo dados da Superintendência Leide das Neves (Suleide), os números permanecem conflitantes. “Inicialmente, são 56 pessoas no grupo 1 e outras 46 no grupo 2. Hoje, temos 156 vítimas nesses dois grupos por causa dos descendentes, filhos ou netos das primeiras 102 vítimas. Além delas, atendemos outras 578 pessoas que apresentam algum tipo de sintoma. Elas trabalharam no local do acidente ou são parentes das vítimas do grupo 1. No total, temos registros de 734 pessoas assistidas.”
Tratamento
Por lei, 120 vítimas que tiveram contato direto com o césio-137 deveriam ter assistência médica integral até a terceira geração. Esse apoio é responsabilidade da Suleide, mantida pelo governo do estado.
Em agosto, vítimas do acidente enfrentaram problemas para conseguir medicamentos para o tratamento. Segundo o superintendente interino José Ferreira, 49 anos, o problema foi solucionado no começo de setembro. “A medicação para esse caso muda de uma semana para outra. Os valores são pequenos, mas a dificuldade é que são vários tipos de remédios, o que dificulta a negociação com fornecedores. Felizmente, fechamos um convênio com redes de farmácias para equacionar o problema.”
Ferreira disse que a medida é temporária, pois o ideal seria que a superintendência tivesse recursos próprios para a compra dos remédios. “É essa a situação que precisa ser resolvida. Isso daria mais agilidade ao tratamento das pessoas.”
"Vamos fazer uma caminhada com velas acesas no local principal da contaminação. Além disso, queremos fechar uma agenda para o ano de 2008. A falta de atendimento às vítimas ainda é um problema e queremos buscar apoio do Ministério da Saúde e do governo do estado", disse Odesson.
(Por Glauco Araújo,
G1, 12/09/2007)