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césio-137
2007-09-12

No endereço em que os catadores de sucata abriram, há 20 anos, a cápsula metálica que guardava o césio 137, permanecem as lembranças das vítimas do acidente nuclear e o rastro do preconceito

Os pontos de Goiânia contaminados com o césio 137 são monitorados regularmente pelos técnicos da Conselho Nacional de Energia Nuclear

À exceção de um edifício de três pavimentos, só há casas na Rua 57, no Centro da capital de Goiás, no Centro-Oeste brasileiro. Todas fincadas em lotes que, há 20 anos, testemunharam o segundo maior acidente radioativo do mundo e o mais grave em área urbana. Elas foram construídas onde dois catadores de sucata iniciaram, em 13 de setembro de 1987, a abertura de um cilindro de chumbo contendo césio 137. Wagner Pereira, então com 19 anos, e Roberto Alves, 22, avançaram, naquela tarde modorrenta, sobre a Rua 57 sem fazer idéia do que tinham em mãos – horas antes, os dois tinham invadido os escombros do desativado Instituto Goiano de Radioterapia, na Avenida Paranaíba, e arrancado de uma máquina de raio X a cápsula metálica, de mais de 300 quilos, que guardava o produto químico. Para eles, a peça representava apenas uma grande oportunidade de fazer dinheiro.

Ao alcançar a Rua 57, os amigos se aboletaram nos fundos de um dos lotes. Era onde morava a mãe de Roberto, Eunice Santos, e outras 30 pessoas – ela alugava barracões no local para sustentar a família. O primeiro contato do césio 137 com o ar poluído do Centro da cidade veio a golpes de marreta, logo abaixo de uma frondosa mangueira. Um lacre rompido numa superfície menos resistente fez espirrar um pó branco no braço de Roberto. Wagner sentiu um enjôo e ali começavam a ser contadas as tragédias pessoais de centenas de vítimas do acidente nuclear que completa 20 anos.

A Rua 57 ganhou então uma estranha rejeição. Depois de duas décadas, a viela central não se livrou da má fama. Até hoje, o lote da mãe de Roberto tem as marcas do passado. É o único terreno desabitado da rua. Recebeu uma camada espessa de concreto para evitar a radiação. Vez ou outra, o vão abandonado vira palco de um humor inconseqüente. Há duas semanas, uma placa apareceu na imensidão vazia. Letras de forma revelavam que o terreno estava à venda. E o interessado deveria tratar com o "Seu" Césio. O contato? Só ligar para o número 137. A placa sumiu, mas a tentativa de piada irritou quem mora ali. Dos moradores da época, só resta um. É a enfermeira Elisabeth Lobo Corrêa, de 54 anos, que vive no terceiro andar do único edifício da rua, de onde enxerga da janela da sala o antigo endereço do catador de sucata.

Beth mora na Rua 57 desde 1978. Lembra-se da tragédia com detalhes. "Ninguém nos dizia nada. Tínhamos medo de tudo, até de tomar banho", conta a mulher, na época mãe de uma criança de 2 anos. O temor de ter a família contaminada virou paranóia. Ela foi ao Estádio Olímpico de Goiânia, onde técnicos da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnem) examinaram 112,8 mil pessoas. Apesar da proximidade de um dos principais focos de radiação, ela e o filho não estavam entre as 129 vítimas descobertas durante a medição. Mas decidiu se mudar, porque não suportava o preconceito no posto de saúde em que trabalhava – a desconfiança dos colegas lhe valeram o apelido de Chernobeth, em referência ao maior acidente nuclear da história, em Chernobyl, na Ucrânia. Transferiu-se para o interior goiano e só voltou ao apartamento em 1989. "Todos os dias o césio está na minha cabeça. Sou uma vítima, mesmo sem ter sido contaminada. Se ganhasse melhor, não ficaria aqui", diz.
 
(Por Guilherme Goulart, Correio Braziliense, 12/09/2007)


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