A combustão da gasolina em veículos lança na atmosfera dioxinas, furanos e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, substâncias cancerígenas para os seres humanos. Pesquisa realizada pelo tecnólogo mecânico Rui de Abrantes com carros de passeio mostra que a redução de 20% dos hidrocarbonetos aromáticos na gasolina diminui as emissões de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos pela metade.
“O estudo reproduziu as condições médias de conservação e uso da frota de veículos no estado de São Paulo”, conta Abrantes. Durante dois meses, um carro a gasolina e outro a álcool foram colocados em funcionamento diariamente por 42 minutos, equivalente a um percurso urbano de 17 quilômetros. “Os dois automóveis tinham cerca de nove anos e 80 mil quilômetros de uso, que é a média da frota paulista”.
A média de emissões de dioxinas e furanos, em toxicidade equivalente, registrada nos testes foi de 0,04 picogramas por quilômetro (pg/km) nos veículos a gasolina, no veículo a álcool de 0,05 pg/km. A emissão de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, em toxicidade equivalente, ficou entre 0,01 e 4,65 microgramas por quilômetro (ug/km) na gasolina, enquanto oscilou entre 0,01 a 0,02 (ug/km) no álcool - uma redução média de até 92%. “Não há um nível aceitável de emissões, o ideal seria que nenhuma substância tóxica fosse lançada na atmosfera”, alerta o pesquisador.
“Na pesquisa, a colocação de aditivos na gasolina reduziu em 30% a liberação de dioxinas, enquanto os lubrificantes não tiveram nenhuma influência”, diz Abrantes. Os resultados dos testes são detalhados na tese de Doutorado do pesquisador, apresentada na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP no último dia 8 de agosto.
Gasolina Durante o estudo, verificou-se que a redução de 20% na quantidade de hidrocarbonetos aromáticos na gasolina diminuiu em 50% a emissão de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos na atmosfera. “A queda aconteceu devido à utilização de combustível fora de padrão durante os testes”, ressalta o pesquisador. “A gasolina adulterada pode ter uma quantidade menor de aromáticos, mas também é possível que sejam lançados compostos ainda mais tóxicos na atmosfera pondo em risco a saúde pública”.
A redução efetiva dos hidrocarbonetos aromáticos seria possível com modificações no processo de produção da gasolina, defende o pesquisador. “A Petrobrás poderia realizar estudos sobre a viabilidade da mudança, pois o ganho do ponto de vista da saúde pública é significativo com a queda das emissões de poluentes”.
A pesquisa também constatou que o uso do catalisador reduziu em até 150 vezes as emissões de dioxinas, em comparação com números divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). “O resultado do estudo reforça a necessidade da realização de inspeções veiculares periódicas, indispensáveis para garantir a manutenção do funcionamento dos catalisadores”, observa Abrantes.
Ele explica que as dioxinas e furanos são poluentes que persistem na natureza devido à sua baixa reatividade. “Elas aderem às gorduras dos mamíferos e apresentam cumulatividade em seres humanos, podendo provocar desequilíbrio no metabolismo de hormônios e cânceres reprodutivos”, explica. “Alguns hidrocarbonetos policíclicos aromáticos possuem características carcinogênicas e podem causar câncer”.
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Agência USP, 11/09/2007)